quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Mário

Mário saiu andando sem rumo. Estava em estado de choque. A enfermeira ainda tentou segui-lo mas Mário caminhou rápido. Não podia acreditar. Aquele dia não dormira bem. Tivera pesadelos. Acordara pensando no exame de HIV que fizera uma semana antes. Já repetia esse exame há dez anos e nada tinha acontecido. Sempre preocupara-se em fazer o exame em sigilo. Mas acordou com um estranho pressentimento. Esperou as 15 horas nervosamente. Fora no laboratório buscar e a atendente não achara o exame. Pedira um tempo para procurá-lo. “O Senhor pode responder uma pesquisa com nossa assistente social? Era praxe nesses exames falara a enfermeira. Mário, meio a contragosto, resolveu ir até a assistente social. Entrou e sentou e foi atendido por uma mulher meia idade. “Temos aqui seu exame Sr. Mário Augusto...” Nesse momento Mário começou a deixou de ouvir o mundo externo. A assistente foi explicando os procedimentos para pacientes soropositivos e o que ele deveria fazer. Mário não terminou de ouvir. Levantou-se abruptamente e saiu quase correndo de lá. Não ouviu os gritos da enfermeira. “Vergonha”. Era esse seu pensamento. Pensou na família. A mãe sofreria muito se soubesse, mais que antes, quando descobriu a homossexualidade do filho e que dizia que aquilo era uma doença, coisa do demônio. Ainda bem que o pai já morrera. Um turbilhão de pensamentos tristes tomaram seu pensamento enquanto caminhava sem rumo. Não entendia como fora se contagiar pois sempre usara preservativos. Mas agora era tarde. Passado é passado. Sem notar, chegara a estação de trem. Sentara num banco e ficou perdido em seus pensamentos. A noite foi caindo, e Mário continuara no mesmo banco, ainda perdido em si mesmo e em busca de uma solução para o seu problema. Ouviu o barulho de mais um trem chegando. Pulou a catraca e jogou-se na linha férrea. Uma mulher gritou ao observar a tragédia. O corpo ficou irreconhecível. A polícia fora chamada. Sem reconhecimento da vítima. A linha ficaria interditada até todos os restos mortais serem recolhidos.
Mário nunca mais voltou para casa. Desapareceu para sempre. Os parentes procuraram dias, meses. Foram até ver o corpo de um rapaz que jogara-se na linha férrea mas não reconheceram-no. Mário jamais praticaria o suicídio. Tinha defeitos mas era evangélico, e freqüentava a igreja todos os domingos. A mãe adoecera. Mário entrou para mais uma lista de desaparecidos. Seu retrato ocupava agora um lugar de destaque em sua casa. Sua mãe chorava todos os dias sua ausência.

Suicídios

Ontem me deparei com um pedido que me surpreendeu: parar de escrever meus contos suicidas. Explico. Estou escrevendo uma série de contos que versam sobre suicídios. Não acredito que possa ser um incentivo mas estou pensando no caso. Minha infância foi marcada pela tentativa de suicídio de uma vizinha. Lembre que era criança e fui espiar pela janela a tentativa de salvar uma moça que tinha tomado veneno. Minha mãe quem socorreu. Ela escapou mas nunca mais foi a mesma. Anos depois, morando em Blumenau, aliás, uma das cidades com maiores índices de suicídio do Brasil, me deparei com dois casos. Um dia, no supermercado, e toca o celular. Era a Maria aos prantos. Me contou que sua Luzia tinha chegado em casa e encontrado o filho mais novo enforcado. Foi um choque pra mim, que fui no velório e evitei a todo custo olhar o defunto. Fiz minhas orações e sem querer olhei. Perdi uma noite de sono. Não conseguia dormir. O pensamento que tinham cortado a língua dele para fechar a boca não saía da minha cabeça. Algum tempo depois minha prima pula do décimo andar e voa para a eternidade. Quero deixar bem claro que não defendo o suicídio, ao contrário. Acho de uma extrema fraqueza e covardia. Só quem já viveu num ambiente em que houve um suicídio sabe a ressaca de tristeza que fica no ambiente e o longo tempo que dura isso.
http://ricardoandrebessasocialclub.blogspot.com/

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

LISA

No penúltimo diagnóstico, teria dois anos de vida. Lisa ficara muito abalada. O câncer fora fulminante em sua vida. Tinha 27 anos e um filho de cinco anos. Estava separada há pouco mais de um ano e tinha uma relação de amizade com seu ex-companheiro. Mas a dor nos últimos dias piorara e tornara-se completamente dependente da morfina. Nos últimos dias, recebera a visita de alguns parentes a pedido da mãe. Queriam ajudá-la mas ela foi categórica em recusar qualquer ajuda. Não queria separar-se do pequeno Antônio e afastara qualquer hipótese de mudar-se para o hospital. Continuaria a visitar a mãe todos os dias e a levar seu filho à escola. E assim foram se passando os dias. As doses de morfina foram ficando cada vez maiores. Mais uma visita ao Dr. Mendes e tinha agora seis meses de vida segundo o último diagnóstico do médico. A idéia do fim não a assustava e sim ficar sem o filho. Então resolveu não separar-se nunca mais do pequeno Antônio.
Acordara naqueles dias com dores quase sem controle mas levantou-se e acordou o filho. Teriam um dia bonito. Preparou o café do filhote e ajudou-o a vestir-se. O menino não queria usar o agasalho mas insistira pois estava esfriando naquela época do ano. A criança ficara muito feliz quando soubera para onde iriam. Brincaram durante horas nos brinquedos e depois foram a um shopping center. Compraram muitos presentes para o natal que aproximava-se. Lancharam. Já estava anoitecendo quando pegaram um táxi e foram para casa. Estava tarde e logo que chegaram, Lisa mandou seu filho preparar-se para dormir. O menino obedeceu. A dor estava tomando Lisa por completo e ela começou a preparar um coquetel para Antônio dormir. Misturou vários de seus remédios com morfina. Antônio bebeu tudo sem reclamar. Achou o gosto ruim e fez algumas caretas. A mãe ainda contou uma história antes que a criança adormecesse.
Lisa escreveu algumas cartas e uma especial para seu ex-marido. Deixou-as sobre o piano e foi para casa materna. Sabia que a mãe chegaria tarde e que era dia de bingo com as amigas. Tinha a chave e entrou. Percorreu vários cômodos onde crescera e foi despedindo-se de cada um. Pegou alguns álbuns e folheou. Algums lembranças e lágrimas surgiram. Observou que mãe ainda conservava um porta-retratos do dia de seu casamento. Deixou uma carta ali. E foi para o banheiro.
Passavam das 23 horas quando Dona Clóris chegou em casa. A noite esfriara e estava morta de cansada. Não fora uma noite de sorte no bingo. Encontrou as luzes acesas e viu os sapatos de Lisa na entrada e chamou pela filha. Nenhuma resposta. Saiu procurando Lisa e viu que havia alguém no banheiro pois estava com a luz acesa e a porta fechada. Chamou mais uma vez pela filha. Nada. Bateu mais forte na porta. Silêncio. Tentou forçar a porta mas sua bursite não permitiu. Saiu apressada e pediu ajuda ao um vizinho. Enquanto o vizinho tentava arrombar a porta, reparou em um envelope branco junto ao retrato do casamento da filha. Pegou-o e um estranho pressentimento tomou-a. Nesse momento a porta do banheiro foi arrombada e o vizinho deu um grito. Dona Clóris parou, congelada na porta. A filha jazia, caída no solo do banheiro. Cortara os pulsos e o sangue já não jorrava mais nos pulsos. Desmaiou.
O pequeno Antônio dormiu para sempre. O pai chorou longamente sobre o corpo do filho e não quisera ler a carta que Lisa deixara. Não a perdoava. Fora um bom marido e sofrera muito com a separação, que ela pedira. E agora aquele ato. Aquela violência. Precisaram medicá-lo para que o enterro do menino fosse feito. Os presentes de natal ficariam esperando na árvore.
Lisa fora velada pela mãe e alguns parentes. Não fora enterrada junto ao filho como era seu último desejo. Mas estaria para sempre com ele. O que foi em vida, seria em morte.

A NOIVA VOADORA

Quando Alice decidiu saltar, estava certa que aquele seria seu último vôo. Vestira-se com seu vestido de noiva e pulara do décimo andar daquele edifício de garagens da Avenida Beiramar. Durante a viagem até se esbagaçar-se no solo, Alice, a Alicinha como sua mãe chamava, pensou somente no Carlos, seu grande amor, seu eterno amor. Nada mais importava naquele momento, se não seu amor por Carlos. Pensou como seu amor iria sentir sua falta e a amaria para sempre. Seria sua eterna noiva. Lágrimas e o vento, que bateu violentamente no seu rosto durante a queda, manchara-lhe a maquiagem. No chão, o sangue cobria o rosto por completo mas conservara-se sem fraturas múltiplas, ao contrário do seu corpinho, que muito fora castigado pela queda. Caiu no meio da calçada, fazendo uma grande poça de sangue. Os paramédicos foram logo chamados mas nada puderam fazer. Cobriram o jovem corpo mas tiveram o cuidado de limpar o lindo rosto de Alice, que conservara uma expressão de paz. Havia um sorriso ainda em sua boca. O vestido, antes branco, tornara-se todo vermelho, representando quem sabe todo o amor de Alice por Carlos. Ninguém soubera a identidade da noiva voadora, como foi denominada Alice e seu corpo foi conduzido ao Instituto Médico Legal, onde foi identificado no dia seguinte por seus pais aflitos com seu desaparecimento. A filha sumira e procuraram em todos os hospitais, e por fim, no último lugar onde não queriam estar, acharam a filha. Sabiam porque a filha tinha feito aquilo. O noivo havia terminado o compromisso selado um ano antes. Carlos, muito educado, pediu para conversar com o pai de Alice, e contara-lhe seus motivos. Apaixonara-se por uma colega de trabalho e ela engravidara. Iria casar em poucos dias e não poderia mais esconder esse fato. Devolveu a aliança e deixou uma carta para a ex-noiva. Não tinha coragem de falar-lhe cara a cara. Pedia-lhe perdão e que compreendesse. O amor acabara há algum tempo. Tentara contar. Queria desmanchar o casamento com Alice que se realizaria em poucos dias. Não iria mais casar com ela e sim com outra.
Alice recebera a carta e nada dissera. Trancara-se em seu quarto por alguns dias. No primeiro dia, chorou muito. Mas não tinha raiva do noivo, ou melhor, ex-noivo. Ela não importava-se da outra estar grávida. Ela casaria com ele assim mesmo. Carlos não atendera seus telefonemas. Vestida com o vestido do casamento, pegou um táxi e foi ate a praia. Ninguém notou que saíra de casa. Ficou andando horas e horas, até que decidiu voar. As pessoas estranhavam a jovem vestida para casar andando pelas ruas mas ninguém impediu-a de subir ate o décimo andar, de onde pulou.
Carlos casara naquele mesmo dia, pela manhã.

domingo, 2 de dezembro de 2007

Saudades de SP

Esses últimos dias foram divididos entre observações e estudos. A volta para Fortaleza foi cansaço puro pois perdi meu vôo e tive que pernoitar no aeroporto de Cumbica. Não quis incomodar ninguém. Fiquei zanzando como uma barata tonta, matando tempo.Encontrei até o Pierre vindo de Assunção. Aos poucos vi as pessoas deitando-se sobre os bancos sem a menor cerimônia. Estava exausto e fiz a mesma coisa. Fiquei me lembrando dos últimos dias: da música clássica nos trens urbanos, da atenção da Renata, do encontro no Consulado Cearense, do meu guarda-chuva novo quebrado, das provas e medos. Mas o último dia foi de muito cansaço mesmo, isso sem prever que eu perderia o vôo. Fazia anos que não tomava café da manhã no Macdonalds. Igual ao europeu. Na volta, ainda encontro a linda da Sabrina no avião e pergunto sobre seu eterno namorado que mora na Espanha. Mal cheguei em Fortal, já tive que ir para Iguatu. Fui dormindo. Cheguei e já era hora da minha palestra. Todos muito gentis. Tendências de moda foi o tema. Acabei duas horas depois e já tomei o rumo da rodoviária. Como tinha tempo, parei num bar e comi algo. Fiquei ouvindo uma cantora. O som era péssimo. Mas a moça se esforçava. Fui para a rodoviária e o ônibus atrasou-se. Um cara veio pedir dinheiro e como neguei, quase apanho. E ainda me chamou de racista. Mas racista só porque não quis dar uma esmola. Ninguém merece. E na volta, ainda fui ao lado de um roncador. Ninguém merece mesmo. Saudades de São Paulo.

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Saga Paulistana

A saga paulistana continua. Ontem fiquei esperando a chuva passar em plena Rua Augusta. Aqui, chuva é uma droga. Comprei um novo guarda chuva. Advinhem a cor? Quem pensou laranja, errou. Vermelho. Peguei o metrô e cheguei em casa. Ainda tinha Lipovetsky para devorar. Devorei uma parte e fui tomar vinho chileno na casa de uns amigos da renata. Jogo de advinhação do nome de um filme. Perdi hum real. Depois cama e rolar de madrugada com a ansiedade. De café da manhã, mais Lipovetsky. O dia amnheceu uma garoa e neblina. São Paulo típica. Renata me deixou na estação de trem. O ultimo trem que andei foi o trem bala em Paris. Há muitos anos. Chegou a máquina, muitos tipos a bordo. A maioria com sono. Eu tambem. Cheguei, desci, andei algumas quadras e lá estava o Senac, onde faria as provas. Lugar lindo. Que diferença. Bem, caiu exatamente o texto do livro que nao tinha encontrado. Mas era so para interpretar. Bem, lá fui eu. Oito páginas depois, terminei. Tudo doía. Sem falar que nunca tinha visto falhar 3 canetas seguidas na minha mão. Devia ser o papel. Primeira parte da missão estava cumprida. Restava a entrevista, quinta. E lembram do guarda-chuva vermelho? O cabo de madeira acabou de quebrar. Que droga.

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Viver e morrer em SP.

Sampa traz boas reflexões sobre o cotidiano. Passei o fim de semana lendo os livros para a prova do mestrado. Nada de baladas. Quase pirei e minha vista ficou muito cansada. Moda, cultura e arte. Mas é muito melhor que ler sobre teatro. E aí vai uma crítica aos pensadores de teatro: cultura não é um reino de citações e parágrafos inelegíveis. Mas voltando a viver e morrer em SP, hoje, caminhando pela Paulista, fiquei observando os passantes. Homens bonitos e engravatados em passo rápido. Bons ternos. Uma mulher a esmolar, sentada num banquinho, fazendo crochet. E uma louca, bem, normal não poderia ser, na porta de um fliperama na Augusta, mistura de paquita atômica e chacrete, bota, sainha curta mostrando a polpa da bunda, meias arrastão. Mas o melhor de tudo foi ficar estudando dentro da Livraria Cultura. Queria morar lá dentro. Um dos melhores lugares do mundo. Quarta volto la. Viver e morrer em Sampa. Mas não para sempre.

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Fantasmas

Ontem acordei cedo para pegar um ônibus para Bodocó. Rodoviária do Crato vazia. Três horas de espera e veio a Viação Pernambucana. Mais duas horas de viagem e eu ligo avisando minha prima que ia chegar atrasado para o almoço. A vegetação mexe muito comigo e fui interagindo com a paisagem e meus pensamentos foram longe. Fazia uma década que não percorria esse caminho. Alguma coisa nos últimos dias me deixou depressivo. Algumas lembranças do passado andaram me assombrando também. Quantos fantasmas nos assombram. Ando assombrado.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

SECAS


Domingo estava vindo para o Cariri e algumas dores me incomodavam, mas nada que tirasse meu humor. Fiquei ouvindo música, acompanhando a seca paisagem. Pior que a seca vegetal, era a secura dos homens. Fui acompanhando o sol sumir num espetáculo indescritível e a noite vindo, anoitecendo e eu rezando com as estrelas por todos aqueles que me são caros e que a saudade bate nessas horas. E como a saudade fica enorme. Já era noite e meu papo com o céu continuou por muito tempo. Depois de anos, voltei ao Crato. Um calor sem precedentes. Muitos espetáculos acontecendo. Fui assistir uma peça que falava sobre a morte, diversas mortes. Quase duas horas. Quase morro. Comecei a sentir dor, mas resisti. No fim, lingüiça fria. E fui ao Crato Tênis Club ver os amigos. Não agüentei muito tempo. Sono. Mas os dias tem sido tranqüilos na oficina. Conhecer pessoas e realidades diferentes. Quantas secas conhecemos mais ainda. Hoje, vendo a dança dos índios tentava apagar uma tristeza dentro do meu coração. E foi bom ver aquela dança cheia de significados e mistérios. Aliviou meu coração. Aliviou a secura daquele momento. Amanhã, Bodocó.

Sem resposta


Ouviu alguém rezando baixinho. Os olhos pesavam. Sentia-se fraco, sem forças. Abriu os olhos. Ficou observando o teto. Olhou o braço e havia um scalps na veia. Lembrou de tudo. Um sentimento de vazio, inutilidade, raiva. Lágrimas rolaram e puxou por fim o soro da veia. Tentou levantar-se. Queria jogar-se pelas janela, mas não conseguiu. Uma tonteira o derrubou. Sua mãe , que estava ao lado, saiu de sua oração com o susto e gritou por ajuda, correndo para o filho. A enfermeira chegou e ajudou a pô-lo na cama entre lágrimas de felicidade e tristeza. O filho deixou-se levar. Nenhuma palavra. Nenhum questionamento. Nenhuma resposta. Não queria mais ver ninguém. Nem as lágrimas maternas o comoveram. O único desejo era morrer. Não queria mais pensar em futuro. Somente o nada. Passaram algumas semanas. Os médicos deram alta. Não podia viver mais só. A mãe passou a vigiá-lo 24 horas. Mal comia. Se não deixavam ele cometer suicídio, decidiu morrer de fome. A mãe chorava escondida pelos cantos de casa, sentindo-se culpada e arrependida por algo que teria feito mas que não sabia o que. Os amigos do trabalho, no início, ainda procuraram visitá-lo no hospital, saber notícias, tudo inútil como todas as vezes. A família também apareceu, mas como veio, partiu ligeiramente. Todos tinham seus doentes para cuidar. Só queriam matar a curiosidade mesmo. Notícias ruins sempre corriam e serviam para abastecer as rodas familiares. Mas dessa vez, foi inútil. No banco, era funcionário exemplar. Não era chegado às aventuras. Tivera poucas namoradas. Não era também de noitadas. Sempre chegava cedo em casa pois a mãe ficava esperando, como todo filho único de mãe zelosa. Muito cogitou-se mais nada. Ninguém tinha uma explicação. Chegou a um ponto que foi necessário interná-lo de novo. Alimentava-se por sonda. A mãe envelhecera 30 anos em 6 meses que durava esse tormento, nesse silêncio. Estava enlouquecendo aos poucos de dor e depressão. Agora eram dois doentes. Procurara muitas opções e achara algumas culpas pelo estado do filho. Precisava de um motivo e agarrara-se a um que achou mais conveniente. Não suportaria ver o filho morrer. Tinha que morrer também. E foi fácil. Um dia driblou as enfermeiras e saiu do hospital. Um carro atravessou seu caminho e despedaçou-a. Procurou um fim para sua culpa e achou. Ele ainda abria os olhos. A respiração ofegante. Apareceram uns familiares. Sussurram os últimos acontecimentos . Um primo mais exaltado gritou que ele era o culpado pela morte da tia. Foram todos retirados do quarto. O silêncio voltara. O inferno que não acabava. A fraqueza era tanta mas abria os olhos. Parecia que sua provação era observar o teto, um mundo branco que acendia-se e apagava-se na lâmpada do quarto.
Um dia, uma visita. Um homem. Louro, alto. As enfermeiras acharam-no delicado e elegante.Tinha uma aliança na mão esquerda .Nunca aparecera antes. Explicara que era um primo distante. Morava em outra cidade. Aproximara-se do doente. Uma tristeza invadiu seu ser. Lágrimas.Tocou-lhe a mão. Estava fria. Fez um carinho. Os olhos quase mortos abriram-se. Um calor reanimou um pouco seu corpo e consegui apertar a mão do desconhecido. Queria falar e não conseguia mais. Lágrimas. Ambos choravam. Uma enfermeira que passava parou e observava a cena. O visitante abaixou e disse algo no moribundo ouvido, quase aos prantos. E saiu de súbito, atropleando a enfermeira que congelara na porta. Alberto entrou em coma depois dessa visita e morreu semanas depois de parada cardio respiratória e desnutrição crônica. No enterro, poucos parentes e alguns colegas que o estimaram em vida e foram avisados no banco. Um médico que simpatizava com ele também acompanhou o cortejo. Ao seu lado, no túmulo, sua mãe. Juntos de novo.

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

ZÉLIA DUNCAN, DORES CIÁTICAS, MORFINA E AMIGOS.

Tem dias que são para a gente não esquecer. Quando vi na televisão a queda de três helicópteros, pensei, de brincadeira, que era um dia para tomar cuidado. Afinal, era véspera de dia de finados. Tudo transcorreu tranquilamente durante a tarde. Fui a oculista e passei horas conversando com ela. Só terminamos o papo porque as funcionárias da clínica estavam loucas para ir feriar. Fui para casa e me deitei, esperando a hora do show da Zélia Duncan. Às 20 horas, me levantei, tomei banho e me perfumei com as melhores intenções. No caminho para o dragão, parei num caixa 24 horas para sacar algum dinheiro. Veio a primeira facada. Nervo ciático dando ar da sua graça. Saquei e pensei que só era uma dorzinha e segui em frente. Quando desci, mais dor. E fui caminhando, me apoiando numa parede. Sentei na entrada da praça verde e vi muito amigos. Daniela de Lavor alegríssima. Muita dor. Não conseguia mais levantar. Roberto chegou com um dorflex. Nada. Mandei todos irem assistir a Zélia. Denise queria ajudar, mas resolvi esperar o fim do show lá fora mesmo. De tempos em tempos, ela ligava para saber como estava. Passou a Juliana. Dei meu ingresso a ela. Por fim, Roberto, muito solidário, saiu do show, chamou o médico da ambulância que estava de plantão e me aplicaram um voltarem injetável básico. Em 40 minutos poderia levantar e em 2 horas, beber. Era a glória. Ouvi o show todo me retorcendo. Cantei algumas músicas. Sentado na porta. Passaram 80 minutos e não consegui me levantar. Roberto pegou meu carro e fomos a Clínica São Carlos. Pela primeira vez, sentei numa cadeira de rodas. Pela primeira vez tomei soro com medicação. Dois soros aliás. E a dor foi passando mas não o problema. Por fim, na hora de ir embora, não conseguia nem voltar à cadeira de rodas. O médico propôs morfina. Eu recusei. Ainda não. Teria que ser homem e agüentar a dor e respirei fundo e me levantei, quase me jogando na cadeira de rodas. Fingi que não estava doendo muito, usei da minha força e entrei no carro. A fome competia com a dor. Mas resolvi não comer. Chegamos em casa. Para sair do carro, dor, dor e dor. Cai de quatro e fui engatinhando até a entrada do apartamento. Nessa posição, consegui me locomover. Enfim, Roberto me levantou e cheguei na cama, onde joguei-me. Dormi bem mas não muito. Mas levantei melhor, e tomei banho. As dores continuavam, mas estar de pé e equilibrado era a glória. Deixei Bob em casa e fui a farmácia. Tomei todos os remédios e mais uma injeção. Na minha família, dia de finados é sempre um dia para ficar em casa até as 18 horas. Por precaução. Hoje foi mais um dia e eu sobrevivi. Graças a deus tenho amigos. Foram muito solidários. Obrigado Roberto por ter cuidado de mim. Amanhã é outro dia. Amém.

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

A CASA EN PASSANT

Essa semana tive o prazer conferir duas peças com algumas características semelhantes: tinham o mesmo ator e diretor como protagonistas: Jadeilson Feitosa. Falar do Jadeilson é falar de um ator versátil, mil talentos, que vi estreiar. Aliás, estreiamos com a mesma peça, “O Pesadelo”, se não me engano, mas com anos de diferença. Bem, levei 2 anos para ver a casa e me surpreendi muito com o trabalho de corpo do elenco e a versatilidade da dramaturgia em contar as histórias da Natércia Campos. Gostei muito. “En passant” é um caso especial. Não sei se foi estréia, nervosismo, mas não gostei. Será que faltavam algumas coisas? O figurino do Yuri parecia com o de “Se arrependimento matasse”. Coincidência? Não sei. O terno do Jader estava com ombros muito largos. Mas acredito que tudo é ajuste. Irei ver de novo. Agora, o texto está en passant. Tem quase que ter legenda para a gente entender a solidão daquele casal numa noite, em várias noites. Se não fosse ter lido a história no programa, a história seria mais confusa do que foi. O texto lembra muito outro argentino chamado “Pas de Deux”. Não senti a emoção que esperava. Espero ainda sentir.Ainda bem que não sou maioria. Eu acho.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Blackout

Ontem, ao acaso, fui assistir a um espetáculo do Centro Nacional de Dança Contemporânea de Angers, na Bienal de Dança. Era um espetáculo disputado, como conferi depois. Mas chegando ao teatro, vi as portas do mesmo se fechando e corri para entrar. Seriam duas sessões de MÚ A. Fiquei ansioso. Apenas 60 espectadores. Eu fui um dos últimos. Sem câmeras, sem celulares, sem medo, tudo escuro. Um breu total. Lembrei-me dos meus tempos de criança no Acre quando a luz ia embora. Éramos 60 espectadores e além da escuridão abissal, havia o calor. E nada de vermos nada, nada, nada. Apenas um violoncelo. Minutos pareciam eternidades. Aos poucos, mas muito pouco, fomos enxergando um vulto branco. O espetáculo nesse ponto já estava me incomodando. A luz, ou melhor, uma réstia dela, foi surgindo e o ballet tornando-se mais claro, mais significativo. No fim, podemos ver a bailarina. Fiquei pensando. Não era algo que despertasse muitos amores mas gostei da loucura. Faz-nos pensar na escuridão que vivemos e nas negras pessoas que somos obrigados a conviver. Sai querendo luz. Encontrei outra fila lá fora. Nem sabia bem o que dizer. Blackout

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Dores das dores



A casa, ou melhor, os restos dela, não era aberta há anos. Um cheiro de morfo dominava todo o ambiente. Cheiro do passado. Maria das Dores empurrou a porta e quase sufoca-se com o ar morto há anos. Puxou um lenço da bolsa e protegeu o nariz. Foi aos poucos percorrendo os cômodos e a memória. Abriu as janelas. O sol foi dissipando as trevas. Em cada ambiente viu um fantasma. Havia um banco velho. Sentou-se. Era o banco de sua avó. Avó que fora massacrada pelo seu avô, assim como todas as mulheres de sua família foram massacradas por seus maridos e homens, donos absolutos de seus corpos e mentes. Ela fora massacrada por vários homens.O corredor dava na cozinha. Dorinha menina, se viu brincando naquele espaço, ouvindo os ruídos do pai montado em sua mãe, que chorava sempre naqueles momentos. Ela não entendia, naquele tempo, que o pai maltratava a mãe no sexo quando fechavam-se no quarto. A mãe sempre dizia que não era nada às crianças. As marcas sempre denunciavam o contrário e Dorinha só começou a entender melhor quando o pai começou a tocar em suas formas e a mãe apareceu cheia de marcas roxas. Lágrimas rolaram e misturaram-se à poeira que trouxera da estrada no caminho. Os gritos das irmãs sendo abusadas na noite e o choro da mãe a angustiaram mais. Suas irmãs eram mais velhas. Fugiram de casa numa noite. Levavam somente a roupa do corpo e a coragem. O paradeiro ninguém sabe, ninguém viu. Talvez tenham ido para a estrada e pegaram carona no destino, como ela mesma fizera anos depois. Passado chegando. Levantou-se e foi até a sala. Debrussou-se na janela da sala, onde ficava espiando o pai bêbado voltar, para esconder-se com as irmãs no quintal. Ouviu os gritos, seus gritos de socorro, sendo arrastada para a cama da mãe, que a encontrou ainda ensangüentada, em estado de choque aos 11 anos. Não era nem moça e a menstruação nem chegou a vir. Só meses depois da barriga E a barriga cresceu. A vergonha calada no signo do medo. Os meses sem sair de casa, longe dos olhares estranhos e curiosos. A dor. Dorinha gritando, sendo partida ao meio e a criança que nasceu morta. Morta de dores. Um lindo bebê que não sobrevivera a sua origem. O filho que das Dores perseguiu a vida inteira, nas mãos dos muitos homens que teve, primeiro nas estradas, depois nas casas. Nada foi previsto quando a mãe mandou-lhe embora. Não queria ir, apesar de tudo. A mãe fez-lhe uma trouxa e mandou seguir o caminho das irmãs. Que procurasse por elas e mandasse notícias. Busca inútil. Dona Maria das Chagas nunca reviu. Nos anos em que Dorinha virou Dora, escreveu , mandou endereço e nem mesmo quando o pai morreu bêbado e afogado, a mãe quis ainda continuar naquela casa perdida no sertão e não foi morar com a filha. Passaram 20 anos. Os parentes mantiveram a casa. A saudade da mãe e das irmãs eram terríveis. Não tinha mais ninguém no mundo. Todos morreram. Talvez suas irmãs estejam mortas também. Estava vendo-as também. Via todo mundo na sala como antes quando a mãe fazia renda de bilro. Um dia estaria morta e também ali, naquela sala. Apenas um fantasma do passado. De volta pra casa.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Medos

Tem dias que acordamos nublados. Hoje o dia acordou nublado. Literalmente. Ando cansado. Uma canseira de algumas coisas. Queria poder mudar mas hoje fui remetido ao tempo de Blumenau. Não consigo ter boas recordações daquele lugar. Queria que meus amigos não vivessem lá. Queria que fosse eternamente sol, trazer todos eles, e ficar na praia ate o sol da meia da noite, rindo a toa. Impossível. Ando frágil. Vulnerável. Lembranças estão numa constante. Viver e morrer em Fortaleza. Ainda bem. Morte não me trás medo. Somos imortais. Uns mais medrosos que os outros. Mas eu não tenho medo. Não o medo da morte. O medo da vida.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

ÁGUA

O que torna alguém especial? Passei o fim de semana pensando, pensando. Pequenos gestos são muito importantes. Uma pequena gentileza, uma delicadeza., ou grandes gestos. Mas é raro hoje vermos grandes. Os pequenos são os que me preenchem completamente. Um dia, alguém que eu nem conhecia muito, me trouxe uma garrafa de água. Uma gentileza. Bebi a água pela atenção pois era uma marca de água que eu não beberia normalmente. E fiquei pensando dias, e já fazem meses. Meses de desejo por água, por uma água,e nem sempre bebemos o que queremos, mas sim o que nos é oferecido. Esse fim de semana, bebi um pouco de tudo. Bebi uma água muito saborosa. Muito mais difícil que Perrier ou Evian. Foi a água dos deuses.

sábado, 29 de setembro de 2007

A BEAUTIFUL DAY

Tem dias que não sobra tempo pra nada, que nos impacientamos facilmente, e a vida deixa de ser prazerosa. Ontem foi um dia diferente. Aulas pela manhã e a noite. Mas me dei ao desfrute de ir a praia com a Lilia, uma professora que visitava Fortal. Parecia um mundo sem nada mais para fazer alem de sentir o vento na cara, tomar água de côco e desfrutar aqueles momentos. Pequenos luxos. Mas desfrutamos tão poucos deles. Somos egoístas com nós mesmos. Temos tudo para as coisas mais absurdas mas para o que nos faz realmente bem, estamos sempre ocupados. Fiquei na praia ate as 17horas e fui correndo dar aula. Tomei um banho antes, claro. A noite, capotei de sono. Nem vi o fim da novela.. Que diz feliz. A Beautiful day. Eu venci. Eu venci mais um dia.

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Daqui há 3 anos...


Ontem sentados numa mês de bar, traçávamos planos eu, Jussier e Denise. Onde nos encontraríamos daqui há 3 anos. Poderia ser qualquer lugar mas a Denise já esteve em St. Paul e decidimos por lá mesmo. É uma cidadela medieval francesa. Águas vão rolar. Parecia um filme três amigos a confabular momentos do passado, traçando planos para o futuro. Três vidas. Traçar planos é uma delícia mas cada dia está mais difícil de executá-los. Ontem lembrei-me que há 15 anos fizera uma festa de despedida. Estávamos de partida para São Paulo eu e a Daniela. Quinze anos depois, eu não me formei em teatro na USP e nem a Daniela tornou-se uma cineasta. Tornamo-nos professores. E a Daniela já tem três filhos. E nossos planos? Bem, eu pelo menos continuei estudando teatro e aprendendo. De novo a pergunta: e daqui há três anos, onde estaremos? Em St. Paul Devant. Se deus quiser. E tem que querer. Ao menos que alguém ganhe da loteria. E fretamos um avião cheio de bons amigos. Preciso encontrar os marcianos.

terça-feira, 18 de setembro de 2007

+ NOTA DE FALECIMENTO +
ACABA DE FALECER A REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL, BRUTALMENTE ASSASSINADA POR 40 SENADORES FORTEMENTE ARMADOS PELO VOTO SECRETO, ATINGIDA MORTALMENTE PELA ABSOLVIÇÃO DO SENADOR RENAN CALHEIROS. DADO O ELEVADO ESTADO DE DECOMPOSIÇÃO, O CADÁVER FOI IMEDIATAMENTE SEPULTADO, EVITANDO-SE O RISCO DE CONTAMINAÇÃO DOS CIDADÃOS DECENTES DO PAÍS. A REPÚBLICA RESISTIU BRAVAMENTE ATÉ ONTEM, QUANDO A MORTE FOI PRÉ-ANUNCIADA PELO "ALI BABÁ", CHEFE DA REPÚBLICA QUANDO, EM REDE NACIONAL, RECOMENDOU QUE O RESULTADO DA CIRURGIA QUE ESTAVA SENDO PREPARADA PELOS 40 ASSASSINOS FOSSE ACEITO PELOS BRASILEIROS COMO RESULTADO DO ESTADO DEMOCRÁTICO EM QUE VIVEMOS. REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL
(* 15/11/1889 + 12/09/2007)

segunda-feira, 17 de setembro de 2007


Acordei de madrugada com muita dor no ouvido. Tomei analgésico e nada da dor passar. Às seis da manhã, levantei , fui na emergência de um otorrino. Infecção no ouvido. Penicilina e corticóide. Um delicadeza tomar esses remédios depois da intoxicação que tive. Enquanto esperava a consulta, surge uma senhora aos prantos. Pedia dinheiro para uns remédios. Me prontifiquei a ajudar mas a atendente disse para não atende-la pois ela era viciada em remédios. Já era comum fazer aquilo. Fiquei olhando os outros pacientes em suas dores. Pensei na felicidade de ter dois planos de saúde e poder sempre ser atendido por médicos bons. Lembrei-me uma vez que fui buscar meu irmão na emergência do hospital geral. A dor lá era maior. E quando vejo o caos da saúde pública, nos perguntamos: que país é este? Um país em que o congresso nacional não passa de uma câmara de ratos. Incapaz de eliminar de seu quadro um homem como Sr. Calheiros. Isso mostra quantos senadores tem o rabo preso por este homem que preside o senado. Quanto dinheiro roubado. Quantos hospitais agonizantes como seus pacientes. Se vivêssemos numa democracia plena, num país justo e inteligente, seria tudo diferente. Quando o brasileiro vota e escolhe seus representantes, a maioria cospe na sua própria imagem. O resultado vemos aí. Todos os dias.

terça-feira, 11 de setembro de 2007

DO QUE SOMOS FEITOS...


Hoje perguntei aos meus alunos de manhã se eles sabiam que dia era hoje e o que eles estavam fazendo há seis anos atrás. Somente uma aluna se manifestou. Ainda morava em Blumenau e estava na faculdade, digitando um trabalho. Vi num site de noticias a catástrofe dos aviões que atingiram o Worl Trade Center. Foi o dia que o mundo parou. Tristeza. A irracionalidade humana no seu grau maior. Não foi um dia qualquer. Lembro que dormi estranho. Quando pensamos que o homem evoluiu, vemos que ele andou um passo pra frente e deus dois para trás. Do que somos feitos? Algumas vezes de tamanha ignorância. Brutal. Para que tanta inteligência se ela as vezes não serve pra nada. Ou melhor, serve para matar e criar ódio entre os homens. Cada vez mais procuro a simplicidade dos pequenos lugares, das pessoas simples, de homens sem desejos de modernidade. Já estou me acostumando com a idéia de viver só, o que é o maior desafio do homem em tempos de depressão galopantes. Não quero uma vida rica em dinheiro e pobre em sentimentos e amizades. Sou feito de sentimentos. Pena que muitos só são de carne e osso.

domingo, 9 de setembro de 2007

PENEDO


Há lugares que nos parecem perfeitos. Penedo foi a primeira parada de uma viagem longa. Maurício, meu amigo próximo de tornar-se Penedense ou coisa parecida, foi me buscar no aeroporto do Rio de Janeiro. Levamos meia hora para nos achar. Que aeroporto “chato de grande”. Achados os perdidos, fomos na barra buscar Darlene e Kalany, uma pastora e um labrador. Todos a bordo, pegamos a estrada e subimos a serra. Viagem tranqüila, paisagem agradável, papo bom. Chegamos e encontramos o Sandro, o homem torto. Ele foi responsável pela construção da casa do Mau mas é campeão em fazer coisas tortas na casa. O ângulo da visão dele deve ser torto mesmo. Pula! Mas a casa, muito gostosa e aconchegante. Adorei a lareira. Na hora de dormir, os cachorros deitaram-se todos na cama do dono. Pensem, uma cama de solteiro e dois cachorros enormes. Haja amor. Mas meu amigo é o cara que mais ama os bichos que conheço. Bem, lá pelas tantas, tive vontade de ir ao banheiro, e quem rosnou e me ameaçou estranhando-me? Darlene, a pastora. Ai que medo. Consegui voltar a minha cama e dormi. Meu pescoço ficou dolorido. De manhã, café e mais café. Tinha um queijo delicioso branco na mesa. Depois fomos ao centro da cidade e na hora do almoço, café da Maira. Muito bom. Lá comecei minha dieta vegetariana. Mas não resisti às tortas doces. No fim desses dias, agradabilíssimos, ouvi e conversei muito com meu amigo sobre o futuro. No fim, voltei a capital carioca para pegar um ônibus a caminho de Mendes. Ficou a saudade. E saudade de Kalany Boy, o labrador. Muito carinhoso ele. Foi bom enquanto durou.

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

O CAFOFO

Houve um cafofo que alguns amigos nunca esquecem. Nem eu, claro. Mas o cafofo que havia no SESC Blumenau era inesquecível. Era o cantinho onde comíamos, muitas vezes escondidos. Não eram mais que 4 metros quadrados mas cabiam umas quatro pessoas lá dentro junto com uma geladeirinha, balcão, pia. Era onde comíamos um pastel de banana com açúcar e canela e já esqueci o nome daquilo. E as cucas? Cuca de banana, nata, farofa...me deu ate água na boca. Era o lugar onde agarrava a Diane e fingíamos que havia algo extraordinário acontecendo. Altas gargalhadas. O tempo passa. O SESC passou. Mas a Diane ainda está lá e muita gente. As lembranças não passaram. Será que o cafofo ainda é o mesmo?

domingo, 26 de agosto de 2007

CHEGADAS E PARTIDAS


CHEGADAS E PARTIDAS

Hoje encontrei uma foto, das muitas que tenho com a Cíntia Pescke, e que me fizeram sorrir e chorar. Há dois anos ela partiu. Todas as festas que íamos, tirávamos uma foto afim de fazer ciúme ao marido dela. Era sempre muito divertido. Ela só me chamava de “Rica”. Um dia, um caroço na garganta, uma biópsia, o diagnóstico fatal. Mas o último natal dela passamos juntos e rimos. Foi inesquecível pelo que aprontei na hora de cantarem “Noite Feliz”. Eu não agüentei ouvir a Dona Maria desafinar e cai na gargalhada. Imagina, ela uns 80 anos, querendo me matar. Meses depois, tudo acabou. Ou começou. Para muitos a morte é o fim, para mim, o recomeço. E nessa discussão ficamos eu e meu irmão, que morre de medo de morrer. Medo de que? A vida é tão sábia. Nada acontece sem a vontade do divino. Nós é que não sabemos viver. Ontem, no caminho para Sobral fui olhando o céu. Estava lindo. Ai pus o óculo escuro e notei que a nuance de cores mudava e eu via um certo arco íris que a visão normal não captava. Assim é a vida. A gente capta tão pouco dela. Uma vida de chegadas e partidas.

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

POEIRA DO TEMPO


Arrumando minha casa, revirei umas caixas que guardo com cartas de muito tempo e outras coisas mais como fotos e convites. Achei o convite do Pedro, um dos mais brilhantes e cdf estudantes de medicina que conheci. Não fui a formatura dele. De repente, seguindo um impulso, encontrei-o. Muito elegante nas suas fotos mundo afora. O tempo passa. Ontem tomando café com a Denise, aliás, saimos para tomar café e tomamos sorvete, e nem podia tomar nada gelado. Mas a teimosia é braba. Encontrei alguns amigos. Ficamos traçando planos. Sempre planos e lutas para vencê-los. Viver está cada dia mais difícil mas vendo os jogos parapan, constato que não sou nada e que aqueles atletas são super heróis. Resmungamos tanto de pequenas coisas e quando vemos alguem sem braços, nadando, é um tapa em nossas caras. E por fim, vendo o terremoto no Peru, penso nos tempos apocalípticos. Pessoas passsando fome, frio e sede. E o Brasil mandando toneladas de alimentos. Nada mais justo pois é ajuda humanitária. Mas nada mais injusto se pensarmos no montante de famintos que nosso berço esplêndido tem.

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

AMIGOS, ZUZU E UM BATIZADO


Que valor tem um amigo? Um verdadeiro amigo não tem preço. Meu coração tornou-se grande para atender a tantos amigos. Não vou citar nomes, mas me sinto tão especial e agradecido por ter tantas jóias em minha vida, mesmo que o tempo e a distancia digam não. Não lembro do nome do meu primeiro amigo de infância mas lembro que a mãe dele chamava-se Ramona. Coisa de louco é a memória. Um dia apostei com minha mãe e ela perdeu. Fui capaz de me lembrar de fatos desde os 3 anos. Que memória. Se pudesse me lembrar de coisas que esqueço num instante mas ninguém é perfeito. Uma coisa que nunca esqueci que uma vez apanhei por causa da Zuzu. Era uma empregada acreana que minha mãe teve. Um dia ela rasgou um vestido. Aliás, picotou com tesoura e eu fui acusado pelo ato. Era inocente. Virou trauma. Sempre falo dessa injustiça para minha mãe. Também sei ser cruel. Anos depois a Zuzu teve um filho e deu o golpe da barriga no ex-sócio do meu pai. Não tiveram final feliz. Ele perdeu tudo que tinha e ela ficou com muita coisa dele. Golpes do destino. Deixei de ser o louro bosta, meu apelido de infância. Meu irmão era o Jabuti e minha tia a Pomboca. Tou rindo aqui sozinho. Cada apelido. Bem, crescemos. E o vento levou. E por fim me lembrei do Carlos Alexandre. Quem era esse? Não sei bem ao certo, mas foi uma criança quase anônima que conheci. Um diabinho. Eu e minha irmã fomos fazer um curso de padrinhos. Enrolamos e fomos no ultimo dia para variar. E no meio da palestra, uma mãe grita: Carlos Alexandre! Venha para cá se aquietar! O menino não devia ter três anos. Mas virou-se para mãe e levantou o indicador, dando uma banana. Eu abaixei a cabeça e pus a mão na boca. Fiquei sem ar de tanto rir. Não podia dar uma gargalhada. E como é bom dar uma gargalhada.

terça-feira, 7 de agosto de 2007

Pro dia ser mais feliz!


Hoje acordei tão bem. A faringite insiste em não ir embora e eu insisto em tomar gelados. Ninguém é perfeito. Liguei a televisão cedo e Ana Maria Braga comentava uma crônica da Danusa sobre a constância de notícias tristes na imprensa. Semana passada encontrei uma amiga jornalista e comentamos sobre isso. Difícil não ficar indiferente quando vemos tantas infelicidades em todos os âmbitos. Mas luto para ser feliz mesmo que certas pessoas sejam contrárias a isso. Pessoas que não felizes com suas vidas, querem os outros infelizes. Me recuso a ser infeliz. Me recuso a calar-me. Prefiro falar, encher a boca, e dizer: sou feliz. Essas pessoas que se danem. Mas quem ainda não consegue enxergar as grandes felicidades nas pequenas coisas, que se esforce. É tão simples. Seja um bom dia, seja uma gentileza mínima. Qualquer coisa para o dia ficar mais feliz. Mas essa manhã foi cheia de detalhes, pequenos detalhes da vida. Sai de casa comendo uma maçã daquelas lindas, argentinas. Num sinal, uma velinha meio corcunda pedia esmolas. Eu estava do outro lado, não podia ajudá-la. Mas um lenço na cabeça e a humildade nos pedidos chamou-me mais atenção.. O sinal abriu e fui em frente. Fiquei pensando nos aeroportos. Essa semana eles bateram meu recorde de paciência e idas. Acho que minha vida daria para contar a partir de chegadas e partidas. Ontem minha mãe contou que foi testemunha da queda de um avião quando estava grávida de mim. Era no Acre onde morávamos. Ela foi a primeira a chegar ao local pois estava de moto e viu a explosão. Contou os detalhes e vendo umas fotos do ultimo acidente que alguém de não muito gosto me mandou, fiquei refletindo mais uma vez sobre meus medos. Minha vida inteira tento não me sentir mal em aviões, e não me sinto, mas todas as vezes alguns pensamentos vem. Mas em trinta e poucos anos de viagens, nunca nada me aconteceu. Só perdi uma vez uma ponte aérea, e essa perda me proporcionou um papo muito bom com meu companheiro ao lado, o Fabio Assunção. Demos altas gargalhadas lembrando histórias de amigos em comum. Quando dirigia As Anjas, foram tantas viagens, tantas histórias. Tantas partidas. Mas nada como chegar em casa. Ontem, cheguando do supermercado, fui ver alguns presentes que ganhei. Sorrisos.O que mais gostei foi um simples cartão. Adorei tudo, claro, mas cartões estão saindo de moda. Tantas coisas estão saindo de moda. Mas nem tudo. Vamos lá, pro dia ficar mais feliz.

terça-feira, 19 de junho de 2007

PARENTE É SERPENTE

Para os antigos, um eclipse lunar ou solar, tinha uma significação especial. Poderia ser sinal de sorte ou azar. Tenho uma tia que nasceu com uns sinais vermelhos no pescoço. Minha avó dizia que tinha visto um eclipse solar na gravidez e os sinais na minha tia estavam explicados. Cada um tem a família que merece. Certa vez, minha avó reclamou que não era amada e outra tia retrucou que ela estava cobrando carinho mas nunca tinha manifestado o mesmo entre seus 10 filhos. E garanto, apesar de tudo, todos tratam carinhosamente ela. Parente é serpente. Ás vezes, famílias matam-se entre si, disputando uma herança qualquer. Do mundo nada se leva. O homem perde-se em si mesmo, acumulando bens e morrendo por eles. E não levarão nada. Só o conhecimento que adquirirmos levaremos. Fico espantado quando vejo um caso de suicídio. Esse ato de revolta contra si mesmo deixa muitas marcas nos que ficam. Dói demais. O suicida é alguém extremamente egoísta. Pensam que acabam com tudo mas o espírito é imortal. O tribunal da consciência que julgue cada um de nós. E ainda ouvimos: tinha tudo e se matou. E eu retruco: morreu de felicidade e egoísmo. Morreu por excesso de dinheiro. A maioria de nós sobrevive. Uns com mais, outros com menos dívidas. E nem por isso andamos nos matando. Incoerências. Estamos cheios delas. Do mundo nada levarei. Acordei pensando nisso. Morrerei pensando nisso. Ontem tomei um lexotan para dormir. Não sou viciado. Tinha essa caixa há 2 anos. Queria dormir muito. Esquecer certos parentes-serpentes que me pertubaram o domingo. Dormi muito. Mas os problemas persistem. E vamos lá. O leão do imposto de renda me espera. Estou armado contra ele. Estou armado contra todos. Minha arma é a parcimônia. Quero ir para o céu. O inferno vai está cheio. Quero ir para o céu. Quero ir para Parságada. Na vida, alguns amigos são mais irmãos que nossos próprios irmãos. E Deus na sua infinita sabedoria ajuda aqueles que precisam. Vivendo uma angústia que parecia sem fim, o telefone tocou. Era uma das melhores amigas. Veio me trazer o sorriso. E temos que sorrir mais. Paz para todos. (RICARDO ANDRÉ BESSA)

O GUARDA-CHUVA LARANJA E ELSA

Essa semana perdi meu guarda-chuva laranja e ele serve de metáfora para outras perdas. Há duas semanas uma amiga perdeu sua avó que me era tão querida também.Não que o guarda-chuva fosse a coisa mais importante da minha vida mas era o único que tinha no momento. Talvez Dona Elsa fosse uma das coisas mais importantes para minha amiga e sua família. Eu tinha tido muitos guarda-chuvas pois gostava de colecioná-los. Dona Elsa tinha muitos filhos e muitos netos, bisnetos. Meu guarda chuva era laranja. Dona Elsa era uma ser maternal, uma figura adorável. De tantos guarda-chuvas que tivera, só restara aquele. O legado de Elsa vai estar sempre presente junto com a lembrança de Seu Zequinha. Perdi muitos guarda-chuvas, de várias partes do mundo. Não gosto de velórios e enterros, mas fui em consideração a uma família que adorava muito e para orar pelo espírito que partiu. Meu guarda-chuva vai ser substituído. Dona Elsa nunca será substituída. Talvez não tenha perdido meu guarda-chuva e sim alguém tenha gostado dele muito e não quis me devolver. Ninguém perde ninguém quando se ama. O amor transpõe as barreiras da vida e da morte. Esqueci meu guarda-chuva no teatro mas não encontrei-o no lugar onde havia deixado. Eu sustento a teoria que no dia que perdemos alguém é um dia diferente. Na terça, era um dia feliz para muitos meus amigos. Naquela quinta em que Dona Elsa partiu, eu tinha achado uma foto que ganhara de sua neta. Eu havia pedido aquela foto pois ela estava sorrindo e não tinha nenhuma foto dela. Coincidência? Eu não queria levar meu guarda-chuva ao teatro mas serenou um pouco naquela noite. A foto ficará guardada como uma lembrança de alguém que sempre me tratou muito bem e foi tão carinhosa. O guarda-chuva vai ficar na memória. Como Elsa, Zequinha e tantos outros. Me disseram que perder um guarda-chuva é bom pois seria algo ruim que aconteceria. Dona Elsa não foi uma perda boa mas foi o que a vida quis. Era a hora. E foram 88 anos lúcidos até o fim. Lembranças boas que não se apagam.

AS PRISIONEIRAS DE SI MESMO

Hoje de manhã, aproximadamente cinco da manhã, fui acordado por uma mensagem do celular. Que ódio do meu sono sensível. Não dormi mais. Era uma mensagem da Letícia dizendo que me amava. Eu perdôo. Aí fiquei vendo televisão. Uma matéria sobre as carmelitas enclausuradas me chama atenção. Há muitos anos, era criança ainda, uns 10 anos de idade, fui a um carmelo. Não gostei. Aquelas mulheres prisioneiras de si mesmo angustiaram minha alma. Lembro-me que sai de lá triste. Não era permitido nem um abraço. Falava-se entre grades. E hoje de manhã, vendo as enclausuradas proclamando votos de felicidade, acho uma loucura. Deus criou um mundo maravilhoso e pecado é não poder ir a beira mar, a uma floresta, a tantos lugares. Como as pessoas interpretam mal os ensinamentos religiosos. Perdoem-me os que pensam ao contrário, mas Jesus ou Virgem Maria se decepcionaria ao ver certas interpretações sobre fé e religião. Não é aprisionando-se que ganha-se virtudes. Trabalhando, plantando, colhendo, convivendo com o difícil ser humano é que se cresce. Deus me livre um claustro. E lembro de um trecho de um livro que diz: excesso de fé não esconde certos pecados. O olhar de falsos profetas assim como suas línguas são contrárias a certas fés professadas. E quando acaba a semana santa, uma triste estatística: há mais mortes e acidentes nesse período que no carnaval. O que é um ser santo? O que? É dando que se recebe.

É russo ser brasileiro

Hoje fui receber meu título de eleitor. Foram três dias de maratonas e filas. O primeiro, não levei meu guarda-chuva porque o que tinha, fora roubado, e para minha sorte, choveu naquele dia e voltei pra casa. O segundo, uma fila para pagar a multa de 3 reais por eleições não justificadas. Havia uma turbeculosa na minha frente que não parava de tossir e cuspir. E ainda me chamou de lindinho de lindo e fofinho. Minha dívida : 7 reais e 2 centavos. Duas horas e quatro minutos em pé. E esses hum real e dois centavos? Só deus sabe de que é. No terceiro dia, mais uma fila. Essa foi rápida. Sessenta e sete minutos. No fim, recebo o título e a senhora que me atendeu diz boa sorte. Eu volto e pergunoi porque ela desejara boa sorte. Era porque muitos adoravam votar. Eu disse que não era meu caso. Que, se vivêssemos numa democracia não seríamos obrigados a votar. Ela baixa a cabeça e concorda. Não existem motivos políticos que me façam pensar o contrário. Ser político é a melhor profissão do mundo e o pior pecado. Trabalham três dias por semana, tem verba pra tudo que é lado, passagens aéreas, etc e etc, e corrupção e corrupção. O inferno deve estar cheio deles vendendo esperanças aos demônios. Se duvidarem, já fizeram uma nova constituição para o inferninho. Ontem estava comparando nosso momento político e social aos momentos que antecederam a revolução russa. Uma desordem total, um czar Lula alheio aos verdadeiros valores que sustentam uma nação, um povo esmagado pelo proletariado rico, uma classe intelectual que tem medo de se manifestar. E eu ainda sou obrigado a pagar imposto de renda que vai sustentar a gasolina azul do aerolula. Nunca esquecerei, há muitos anos, na véspera da segunda eleição que elegeria o FHC para um segundo mandato, estava eu na platéia assistindo o Grande Ricardo Guilherme em Bravíssimo. Chorei de emoção pela interpretação incendiada e majestosa de Ricardo sustentado por um texto baseado em Nelsom Rodrigues. E ele falava: “O que tem sido o brasileiro desde Pero Vaz de Caminha? Eu vou confessar

Entre amores e desamores, o amor nos tempos de cólera.

Hoje é o dia dos namorados. Aquela música do Jota Quest diz muito: o amor é o calor que aquece a alma. Amar, verbo intransitivo. Boa parte da vida passamos a pensar sobre o amor, a procurar um amor, a viver um amor, mas nem sempre somos vitoriosos nessa tão delicada questão. Quantas horas perdemos por amores brutos, amores insanos. O homem está tão brutalizado que esquece pequenos gestos. É o homem cavalo, não o homem cavalheiro. Pequenos gestos valem milhões. Um pequeno papel, mesmo amassado, escrito eu te amo, eu gosto de você, você é importante, vale muito mais que presentes caros. São lembranças que carregamos para a eternidade. Lembro de vários amores. Lembro da obra prima sobre o amor de Gabriel Garcia Márquez: “O amor nos tempos de cólera”. Li esse livro há muitos anos emprestado. Um amor que espera dezenas de anos para se concretizar. Tantos amores que os homens não deixaram concretizar como Abelardo e Heloísa. Tantos amores santificados como Clara e Francisco de Assis. O amor não morre. A eternidade taí para eternizá-los. Lamento as horas e lágrimas perdidas por amores que passaram como a poeira do tempo. Poucos amores para a eternidade. Lembro de filmes, muitos, que chorei. Lembro de uma frase de um deles: você pode amar uma pessoa a vida toda mesmo não estando com ela. O grande desafio da vida é aprender viver sozinho. O maior prêmio da vida é viver amando e sendo amado. Quem nunca amou não viveu, perdeu-se em si. Por pior que seja, certas vezes, amar ainda é a melhor coisa da vida. Feliz quem ama, quem é amado. Infeliz quem não amou. Entre amores e desamores vamos vivendo. (Ricardo AndréS Bessa)

Sono

No meio de sonhos acordei
Lembrança passageira de uma noite inteira
desejos de sono infinito
nao quero acordar do vazio do óbvio
a certeza de nao ter ninguem
a incerteza de querer o nao querer
olhar o céu e nao querer
querer o sol e ele nao querer
querer o sonho eterno e a vida não querer
querendo tudo
tudo nao tive
tive o mundo
o mundo girou escorregou.
Ricardo André Bessa