terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Feliz e Triste Ano Velho


Se voltarmos no tempo e avaliarmos o ano que agoniza, veremos muitas cenas tristes e felizes. Veremos um ano em que um pai joga sua filha para a morte, que um cara mata sua ex-namorada, praticamente na televisão, que Ingrid Bettancourt foi libertada e etc. Foram muitos fatos. Um ano que termina em que nosso presidente manda-nos gastar. Gastar o que? Só se for gastar a desgastada paciência do brasileiro com os políticos. Mas o poder não é eterno. O mais triste para mim é terminar um ano vendo o apocalipse da faixa de Gaza. Alí, onde já passaram tantos líderes espirituais, a terra banha-se de sangue e bombas. Inocentes morrem na fúria de irmãos que se odeiam porque adoram deuses diferentes. Irracionais. Aliás foi o ano da irracionalidade. Triste.
Fico feliz de viver num país como o Brasil que, apesar dos pesares, é um país lindo e tem pessoas lindas. O que me deixou feliz é ter pessoas maravilhosas ao meu redor. Ter família, ter amigos. Sou grato a todos que me ajudaram na transição, na adaptação em São Paulo. Tive um ano feliz em muitos aspectos. Agradeço a Deus. É Bom ter uma crença para acreditar. Tento pensar positivo. Procuro acreditar que 2009 será um ano de maravilhas. Vou fazer minha parte. Se todos nós fizéssemos nossas partes para harmonizar o mundinho em que vivemos, tudo começaria a mudar. Triste ano velho. Feliz ano novo.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

NATAL FELIZ É GANHAR UM QUEIJO REAL


Então é Natal. Uma repórter disse hoje cedo, no jornal da manhã, que nessa época, ficamos mais carinhosos e solidários com o próximo. Gentileza gera gentileza. O que me aborrece é que deveríamos ser solidários com o próximo o ano todo. Não deveríamos ser “caridosos” porque é Natal. Deveríamos ser mais humanos porque é bom dividir ao menos o que nos sobra. E sobra tanto. Ontem passou um amigo secreto na TV. Um garoto pobre, cuja cidade não lembro mais , pediu de presente algo inusitado: um queijo real. Aquilo me tocou demais. Na sociedade de consumo em que monstrinhos burgueses querem é aparelhos celulares e laptops, um queijo real é surreal. O ator que entregou o queijo deu-lhe outro presente, um brinquedo talvez. Outros meninos pediram uma caixa de chocolate. Lembrei-me dos meus pais, que foram muito pobres. E também que minha mãe sempre pedia para ganhar um sapato que fosse maior que o pé dela pois sempre ganhava sapatos usados menores. Meus avós eram muito pobres e viviam no interior do Amazonas. O Natal deixa-nos mais sensíveis. Mais pensativos. Natal não deveria ser essa comilança sem fim. Jesus era tão simples. E quando vejo o Vaticano com seu ouro e roupas púrpuras, sinto uma dó daquela instituição. Não que ela não ajude o próximo. Mas poderia ajudar mais, muito mais. Cada um faça sua parte. É dando que se recebe. Feliz Natal.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Águas dolorosas


Muito triste o noticiário sobre Blumenau, onde morei quatro anos. Ver as fotos de tantos lugares onde passei, casas que eu via no caminho, tudo destruído. O rio sempre causou temor quando vivia lá. Ao acaso, vendo fotos da enchente, tinha uma da rua onde morava, tomada pelas águas. Chorei pelas dores das pessoas que conhecia e desconhecia. Minha família materna criou-se nos brejos amazônicos, acostumados a grandes enchentes dos rios. Cresci numa cidade acreana acostumada com alagações. Mas só vi desespero de perto em Blumenau. Tudo se reconstrói materialmente. Mas as perdas humanas são terríveis, podendo nunca serem superadas. A sede, a fome,são os piores flagelos destes dias. O cenário, já não bastava ser apocalíptico, ainda vemos pessoas diabólicas que vão roubar as casas abandonadas na evacuação. Saques em supermercados. Passar fome depois de tantas dores é uma dor sem precedentes tendo em vista a riqueza de poucos que exploram a maioria. Não estamos na África, tão mais suscetível ao caos, mas quem está livre dessas misérias? Cada um pode fazer sua parte. Estão aceitando doações. É dando que se recebe.

domingo, 16 de novembro de 2008

O caminho para Meca


Ontem fiquei pensando no meu caminho para Meca. Está tão longe. Fiquei pensando em Cleyde Yáconis, com sua interpretação delicada e emocionante de uma artista caminhando para Meca. Lembrou-me Bette Davis, sempre precisa. Lembrei-me dos últimos dias de meu pai, precocemente envelhecido, esperando a morte. O teatro tem essa capacidade maravilhosa, quando bem feito, de nos transportar e fazer refletir sobre a vida e sobre nós mesmos. Conheci Athol Fugard vendo um amigo em cena, na Bahia, em “Mestre Haroldo e os Meninos”. Foi um contato difícil com o autor. Era a estréia.Uma peça longa, que custou a me conquistar, mas quando tomou conta de mim, fui possuído. “O caminho para Meca” foi diferente. Esperava me emocionar nas entrelinhas. Tinha lido a biografia de Cleyde. Sabia que iria ver uma das maiores atrizes do teatro brasileiro. Não vi Cacilda em vida, mas vi Cleyde. Vi Helen Martins. Ellen Martins é minha irmã. Uma coincidência. Cleyde-Helen é uma vela que não se apagará no meu caminho. Um dia eu chego à Meca.

domingo, 9 de novembro de 2008

Quando um ator morre!

Algumas vezes na vida, me arrependo de ter sido ator e de amar tanto o teatro. Isso acontece quando assisto um ator desvirtuar o labor teatral, demonstrando que não basta ter um rosto bonitinho ou ser global para merecer meu respeito e ser considerado um bom ator. Não sou dos mais exigentes como público. Pago um ingresso para me emocionar ou me divertir. Costumo dar grandes descontos tendo em vista as dificuldades que nós artistas passamos. Mas terminada a semana, posso comparar ao que vi ontem a noite, a peça “O imperador e Galileu”, montagem cheia de patrocinadores e apoiadores e com o ator global Caco Ciocler, com duas montagens da mostra de dramaturgia nordestina, “Como nasce um cabra da peste” e “Os lesados”,que ocorre esse mês. O nordeste deu um show e me emocionou muito, seja pelo talento, seja pela garra. A peça “Galileu e o imperador” é um caco. Tem todas as qualidades técnicas, como um figurino criativo e bem executado, luzes, cenários mas peca pela falta de atores bons. Mas era Ibsen, e tentei dar uma chance a montagem. Tentei me envolver, e não dormi, pasmem. Mas no momento clímax, o imperador agoniza, o ator “Aos Cacos Ciocler”, diz a barbaridade: “Gente, não posso morrer de braguilha aberta’”. Quis sacar um fuzil e metralhar ele. Me senti roubado, pois até ali tinha dado todos as chances para que a peça me conquistasse, e nem ía ser tão rigoroso com minha opnião. Mas foi o fim literalmente. E uma amiga diz: “Ah, ator da globo pode”. Pode? Bem, nem tinha meia platéia ontem. Depois ator reclama da falta de público. Pior do que a ausência de público é a falta de preparo do ator. Será que tudo aconteceu por que ele alizou o cabelo? Morra Caco Ciocler.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Há tempos-do vazio ou não vazio da arte à violência dos atos


“Parece cocaína mas é só tristeza. Talvez tua cidade. Muitos temores nascem do cansaço e da solidão. Descompasso, desperdício, herdeiros são agora da virtude que perdemos...”Lembrei dessa música ao relembrar o dia de ontem. Por duas vezes, vi armas empunhadas, há poucos metros. É cruel pensar que vivemos sob o signo da violência urbana e cotidiana. As manchetes priorizam a animalidade humana. Há muitos anos, quase na Ipiranga com São João, presenciei de camarote, da janela de um hotel, a perseguição pela polícia atrás de um carro. Muitos tiros foram dados. Tenho que acreditar que vivemos o tão falado apocalipse. Dia a dia ele acontece. Mata-se por qualquer razão. Ou melhor, mata-se muito sem nenhuma razão. Um amigo quer fazer um documentário sobre os imigrantes cearenses e pediu para pensar sobre São Paulo. O apóstolo Paulo deve se envergonhar de dar nome à uma das maiores cidades do mundo. Mas nem tudo é o cheiro ruim das marginais, nem a droga que corre solta na burguesia que fede. Há milhares de pessoas tentanto construir seu futuro, num vai-e-vem contínuo. Há calor humano. Há muita arte de peso nos teatros e galerias. Ou não há arte nenhuma numa bienal que destaca o vazio. Tantos vazios. Apesar de tudo, gosto mais de viver aqui do que não viver, apesar dos pesares. “Os sonhos vêm e os sonhos vão e o resto é imperfeito...”.

domingo, 26 de outubro de 2008

Eleição Animal


Primeiro, eu odeio votar. Votar não é democracia, nem aqui nem na China. E votam na China? Voto obrigatório? Fala sério. Digo e repito: se vivêssemos numa democracia plena, voto não seria obrigatório. Votar em quem e por que? Que moral a maioria dos políticos demonstram? E ainda pagamos a campanha deles. Comparo a eleição brasileira à política de uma floresta nacional. Nossa floresta é a mais conhecida do mundo, e aqui transintam todos os animais pois nossa mata é liberal.Todos os candidatos são animais. Uns carnívoros, outros herbívoros. A maioria, numa sanguínea luta, devoram-se uns aos outros, e se preciso, até jogam suas mães às feras. Temos candidatos de todos os tipos.Na maior clareira da floresta, chegaram ao segundo turno, o Viado e a Vaca. Ganhou o Viado. Os animais não sabem votar. Somos animais mesmo. Tanto o Viado como a Vaca são muito parecidos. Mamíferos e já mamam nas tetas dos governos há muito tempo. É fato. Eu não votei. Meu título é da selva amazônica e aquí a mata nativa é floresta atlãntica. Mas soube que por lá, ganhou a Cobra. Quando mudaremos a mentalidade dos animais? Difícil. O presidente de todas as florestas é uma Lula. Animal maríneo, cheio de patas. Nadou em muitas eleições, até que chegou à praia e se elegeu, depois de muitos anos tentando provar que era um animal como qualquer outro, seja da terra, seja do mar. Todos os animais acreditaram. Como sabem, as Lulas tem ventosas e onde grudam, ficam. Quero ver no próximo ano, na eleição geral de todas as florestas. Vai ser uma carnificina.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Casanova paulista


Semana passada conheci o ”Casanova” de São Paulo. Trinta e poucos anos, um cara normal, palavreado de surfista paulista, dois casamentos desfeitos, contava a glória das perseguições femininas. Não dispensava nenhuma. Tinha taras em mulheres comuns. O negócio dele era possuir as mulheres. Não posso negar, ele tinha uma qualidade essencial aos conquistadores: sabia seduzir. As carentes suspiravam. Enumerou inúmeras conquistas dentro e fora do trabalho. Casadas e solteiras. Há pouco desfez seu segundo casamento. Mas que casamento duraria, se ele não resiste a uma mulher? É uma figura engraçada, do bem, mas quando apaixonar-se de verdade por uma mulher de valores, vai sofrer. Mulheres de valores querem homens de valores e monogâmicos. Espero que ache alguém de valor que mude e baixe seu fogo. Tudo isso me faz pensar na velhice. Minha mãe tinha uma expressão para solteirões: rapaz velho. Ficar rapaz velho é triste. Nunca vai casar e nem ter filhos. Vai ter todas as mulheres do mundo mas não vai ter nenhuma, e a velhice vai chegar. Sem filhos, só. Espero que não. Só deus sabe.

sábado, 18 de outubro de 2008

Crônica de uma morte anunciada


A tragédia, enfim, aconteceu. É a crônica de uma tragédia anunciada. Três tiros e uma certeza: não havia nenhum amor no ato desesperado de um jovem que perdera sua namorada. Tudo conspirou contra o fato. Um circo se armou entre a imprensa e a polícia. Virão as perguntas inusitadas: será que os tiros que acertaram a jovem foi do criminoso ? Quem ama não mata? Amor obcessivo que vira pocessão. Teremos uma semana de intensos debates na imprensa. Que raiva! Tenho pena do rapaz. Tenho que acreditar em outras vidas para, no mínimo, não desejar a morte dele. Aí nos perguntamos: será melhor que a jovem sobreviva? Perdeu massa encefálica e uma bala ainda está no crânio. 15 anos. Que carma. É o tipo de notícia que nos deixa mais triste com o ser humano. Se fosse na idade média, a moça seria raptada e seria obrigada a consumar um casamento, mesmo que não quizesse. Mas não vivemos na idade média. Vivemos? Os bárbaros ainda continuam soltos, se pensarmos por outro lado. Poderia enumerar muitas características medievais em pleno século XXI, mas deixa pra lá. Acordei com uma imensa tristeza. Um dia cinza, nublado. Um vento frio. E ainda temos que rezar pelos desgraçados. Amém.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Amores loucos e Elke Maravilha


Louco de amor. Assim definiria o homem que pegou a ex-namorada como refém e ameaça matá-la. Amor? Que nada. Posse. Não sabem nada da vida. Parece até que só haverá um único amor na vida, e que, perdido esse, nada mais tem sentido. Loucura. Tem tanta gente solteira por aí. Gente legal. Homem, mulher, jacaré. O amor verdadeiro mesmo, aquele que dói lá dentro, tudo aceita. Mesmo não sendo correspondido, aceita e ama em silêncio. Tem gente que aceita esse amor e vive, secretamente, a vida toda para ele. É o mesmo que trancar-se e jogar a chave fora. Cada um escolhe viver como acha melhor. Sábado pude apreciar um pouco a história da russa mais brasileira que já vi: Elke Grunup, a Maravilha. Ao acaso, fui assitir o show dela, onde entre cantos e contos de vida, pude admirar uma mulher de 63 anos, há 2 metros de distância, fazer uma celebração da arte de viver. Surpreendente ouvir a história de seus pais, fugidos do comunismo. Das histórias de seus oito amores e da convivência pacífica com o último, com quem ainda divide o teto. E no fim, sem bis, ela disse que queria abraçar o público, e me abraça, dizendo no meu ouvido: obrigado por você ter vindo. Fiquei surpreendido. Parado, estático, ela me abraçando. Por fim, abracei aquela senhora com uma peruca de pérolas e agradeci o show. Fui pra casa pensando nesse encontro inusitado. Maravilha.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

ENTRE A VIDA E A MORTE

A vida mostra-nos que não estamos preparados para a morte, mesmo sabendo que ela é inevitável. Alguns pensam que essa vida é única e fazem todo tipo de adversidade. Não acredito que tenhamos uma só vida pois seria chamar Deus de burro. Deus não daria uma vida única diante das diferenças sociais mundiais. A crença em muitas vidas perde-se no tempo. Mas há os que acreditam que só viverão uma vez. É um direito delas. Muitos fazem de suas vidas um ocaso. Acreditaria que só existisse uma vida se o mundo fosse diferente, se os líderes fossem diferentes, se os padres e pastores fossem diferentes, se fôssemos realmente irmãos. Diferentes. Entre a vida e a morte, prefiro a morte. Mas no seu momento exato. No seu tempo. Quero chegar lá do outro lado melhor de que quando cheguei aqui. É uma luta diária. A vida em morte é o sonho, a vida em carne é o pesadelo. Lá é o grande mistério. Mistério esperado. Quero ficar sábio antes de ficar velho. Quero ter uma vida assim como uma morte: dignas. Nem uma folha cai sem a vontade do pai. Vou esperar com calma.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Um copo de miséria


Esses dias fui à Fortaleza correndo. Mal vi poucos amigos e tive que voltar. Acordar e olhar o mar, poder respirar um ar não tão saturado, tomar sol as cinco e meia da manhã, foi tudo muito revigorante. Voltar a São Paulo, respirar o oxigênio poluído, quando não respiro o ar infecto do rio Pinheiros. Mas os poucos dias na capital alencarina valeram por muitos. A cidade continua suja e tende a piorar com a aproximação da eleição. Detesto política mas pude ver que será uma campanha de baixo nível, com todos atirando em todas as direções. É o desejo do poder. O diabo deve está muito feliz, enfim, foram muitos homens que penhoraram suas almas. Marcou-me a cena de uma Pietá, uma mãe que segurava seu filho no colo, encostada num poste, em frente da entrada onde dei meu curso. Todos os dias ela estava lá. A situação daquela pobre criatura não mudará tão cedo. É difícil mudar a cabeça de certos filhos de deus, que vendem seu voto por um saco de feijão. Seria melhor passar fome? É cruel. Mas há tantas fomes nesse mundo. No caminho para minhas aulas, vim lendo no trem um artigo de C. Wright Mills. Falava sobre a imaginação sociológica falsa que temos das posições sociais. Fiquei pensando nas relações entre nossa sociedade. Lembrei-me da amiga de minha mãe, que vendo sua empregada abrir a geladeira e pegar água gelada, repreendeu a empregada pois ela não podia beber água mineral, ainda mais gelada, já que na casa dela não havia geladeira nem agua mineral. Miséria humana . Cada dia eu acredito mais em reencarnação pois não é justo acreditar que vive-se somente uma vez em meio a tantas desigualdades. O pensamento humano tem que mudar. O homem tem que mudar. Temos que mudar. Um copo d'água pode valer nossa entrada no céu. Enquanto não desvendamos o paraíso, vamos vivendo.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

País de bunda


A vida brasileira parece uma salada de frutas. Todo dia aparece uma nova mulher fruta. Temos as mulheres melancia, moranguinho, jaca e por aí vai. Isso reflete um lado ruim da cultura brasileira e que de maneira macro, chega até às crianças. Lembro de Carla Perez e sua dança da garrafa. Shortinhos minúsculos e um bailado altamente erótico. Concurso infantil de "Carlinhas". Um horror. Alguem já pensou que isso pode incentivar o erotismo latente no brasileiro e causar sérios danos a sociedade, como estupros e violência sexual ? A mídia não ajuda. Que beleza tem uma mulher com a bunda maior que uma melancia? Um desbunde? Bunda bonita é a da Luísa Brunet, linda em sua totalidade, dos pés à cabeça. Quem ganha com isso? Ganham as revistas eróticas e as peladonas. O engraçado é que essas "pseudoartistas" posam nuas, ganham milhões e depois, passado um certo tempo, arrependem-se da vida pregressa, e tornam-se mulheres voltadas a religiosidade, abominando seu passado. Detalhe: abominam seu passado mas não abominam os lucros advindos de sua nudez. Ainda não vi nenhuma "arrependida" doar algum dinheiro aos irmãops carentes. Nesse momento, chego a conclusão: o Brasil é um país de bunda mesmo. Continuarei rezando para que cresça e torne-se um país de cerébro. Créu.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Anjos e ventos


O pensamento que traz o vento. O vento que mostra o tempo. O tempo que pode ser tormento. O mar que nos faz pensar. Pensar que nos faz amar. Amar, pensar. Saudade do tempo em que éramos meninos. Pensávamos que seríamos seres guerreiros mar adentro. Somos guerreiros sem paradeiros, perdidos no mar sem tempo, num vento que açoita nossa cara e desmascara nossa máscara. Não somos mais meninos. Continuamos traquinos. Ainda somos meninos. Apenas crecemos. Do outro lado, anjo alado. Asas guardadas. Anjo, voa, assopra o vento. Enquanto é tempo. Voa.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Imortais.


Sábado fui ver "A Megera Domada " com o grupo de Cacá Rosset. Uma montagem grandiosa, seguindo os preceitos shakespirianos, humor fino, cenários comuns mas funcionais e figurinos lindos. Música ao vivo. Bons atores. Boas gargalhadas. Shakespeare imortal. No fim, Cacá dedica aquela apresentação a Dercy Gonçalves, outra imortal, que morreu no sábado. A história de Dercy é a história de muitos artistas: fome, luta e superação. Venceu todos os obstáculos num tempo em que atriz e prostituta eram a mesma coisa para a polícia. Vamos sentir saudades dos seus palavrões. Porra, puta que pariu! E ela só queria trabalhar. Lembro-me de ter cruzado com ela uma vez, numa desta em Blumenau. Foi muito simpática. E foi-se. Domingo, dia de sol, fui para o Guarujá. Dia lindo, céu de brigadeiro. Na praia, tomei raspadinha de uva com leite condensado e quase fico diabético. Depois comi milho no pratinho com garfinho. Sem graça. Bom mesmo é chupar a espiga. Ainda teve a inacreditável tapioca de pizza e um cheeseburguer. Só faltou um acarajé pois vi um carrinho que vendia na areia. Ainda encontrei o Mickey Mouse na praia. Imortal. O vento frio me arrepiava e não tive coragem de entrar no mar. Um picolé. No fim, algumas mensagens do dia da amizade. Já não tinha créditos para responder. Amo meus amigos. E dia da amizade é todo dia. E meus grandes amigos são imortais para mim.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

República dos bananas


Quando chamam nosso Brasil de república dos bananas, lá fora, são injustos porque esquecem de olhar seus próprios países e verem que fazem mais absurdos que a gente. Por outro lado, vivemos numa república de bananas sim. A nossa administração cada dia mais enfatiza esse termo. Pobre fica preso anos porque roubou uma lata de leite para alimentar um filho faminto. Banqueiro milionário fica preso algumas horas por roubar milhões. Na maioria dos casos, os políticos tem o rabo preso. Uma hora aparecem como cordeiros, mas depois mostram sua cara e são na verdade lobos devoradores do patrimônio público. Nunca podemos dizer nunca, mas espero nunca vender minha alma ao diabo me candidatando a alguma eleição. O diabo adora cobrar a alma como dívida de campanha. Eu tenho que acreditar que teremos um futuro melhor. Mas quando? Bem, se vivêssemos numa democracia, não seríamos obrigado a votar. Democracia plena é termos o direito de não votar. Mas somos obrigados. País de bananas. E hoje lendo uma crônica de Carlos Heitor Cony refleti um pouco. Ele nos conta que Garrincha, ao ser indagado sobre o que lembraria sempre de Roma, respondeu: foi em Roma que roubaram as chuteiras do treinador da seleção brasileira. Todos os caminhos um dia levaram a Roma. Caminhos falhos. Roma ruíu com as ivasões bárbaras. Será que um dia nossa política bárbara ruirar? Talvez, acendendo uma vela, mas não de sete dias, tenhamos fé. Uma vela de setenta e sete anos? Mais? Vamos esperar. Cada dia mais o canto de Cazuza ressoa na minha mente: Brasil, mostra tua cara!

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Páginas cotidianas-a dama da lotação


Dias desses, pegando o metrô até a São Bento, um garoto cego me chamou atenção. Seu olhar era mágico, pois mantinha os olhos bem arregalados e segurava a mão de seu amigo ou pai. Lembrei-me que tenho três primas cegas, irmãs. Enxergam com os ouvidos melhor que eu. E como somos cegos nessa vida. As vezes não enxergamos o que está embaixo do nosso nariz. O metrô aliás é uma página cotidiana de fatos para vermos as coisas. Outro dia, o carro lotado, uma loura, meio vulgar, roupas vulgares, e um homem de terno e gravata, um tipo italiano, protagonizaram uma cena, em que assisti de camarote, bem na minha frente. Não sei que momento olhei para ambos pois conversava com um amigo, mas quando reparei, o homem encostava de leve no "derriére" da moça. Com o movimento, o balançar tornou-se constante, e a moça deliciava-se com a situação. A dama da lotação. Fiquei observando e meu amigo ao lado também notou o flerte do casal. Beirava quase a imoralidade, como diria uma tia carola de igreja, mas eles, parada após parada, continuaram em sua paquera. Eu e meu amigo começamos a conversar em inglês sobre o fato e demos boas gargalhadas, o que chamou a atenção do casal. O homem afastou-se mas notamos o grau de excitação dele e o desânimo dela. Separaram-se. Notei uma aliança na mão esquerda dele. Ela parecia solteira, sem alianças. Logo ele desceu e nós tambem. A moça continuou. Talvez em busca de um parceiro. Foi a única vez que vi um "quase" ato sexual no metrô. Ou melhor, foi um ato sexual, apenas não tiraram a roupa e transaram ali na nossa frente. Nossa mente já tinha despido-os e tornado-os dois despudorados e tarados. Como nossa mente é fértil.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

E viva o Brasil, puta que pariu!


Li a Folha de São Paulo ontem onde Ciro Gomes ataca a prefeita de Fortaleza, chamando Fortaleza de Puteiro. Sou cearense naturalizado, pois estudei e virei gente em Fortaleza, e com muito orgulho. Por acaso fui aluno da Luizianne Lins, atual prefeita de Fortaleza, em quem votei quando era candidata à vereadora, em uma das últimas eleições que votei. Fortaleza é uma cidade maravilhosa, para quem conhece. São Paulo, onde moro atualmente, também é mas depende do ponto do vista. Fortaleza é cheia de putas mas onde não é. E adoro essas mulheres, pela coragem e luta ou pela vida que deixaram se levar. Todas merecem respeito. São Paulo também é cheia de prostitutas. A diferença é que no nordeste as putas são meninas, quase crianças, quando não são crianças mesmo, que dão o que é delas por migalhas à estrangeiros porcos e brasileiros imundos que vão comer as pobres meninas. Pobres menininhas. Passei os ultimos três anos morando em fortaleza. Antes morei quatro anos em Blumenau, um exemplo de administração petista pois é limpa e lavada todo dia, abundam empregos, os puteiros estão por toda a cidade e são chamados de whisquerias, as escolar públicas são maravilhosas e uma vez por mês os ônibus são gratuitos. É tao maravilhosa que tem um dos maiores índices de suicídio do país. Preferi largar Blumenau e voltar anos atrás ao puteiro cearense como diria o infeliz Ciro Gomes. Encontrei a Praia de Iracema, a parte dela que tanto adorava, destruída e tomada por cabarés e putinhas para todos os gostos e desgostos. A violência nem se fala. Mas apesar de tudo, o espírito nordestino ainda vive e supera tudo. Se não superasse a política de roubo e abandono, não existiria nordeste, nem norte. Aliás, para alguns sudestistas(se é assim que se escreve) e sulistas, norte e nordeste é a mesma coisa. Como me irrita quando dizem "povo do norte". Há anos não voto. Ano passado paguei 15 reais de multas por cinco eleiçoes sem justificar e para renovar o passaporte. A prefeita de Fortaleza teve propostas interessantes mas o inferno está cheia delas. O problema não é o PT, ou o partido que seja. Qualquer um que chega ao poder vende sua alma ao diabo, ou o diabo a toma como pagamento de dívida de campanha. Saudades do puteiro de Fortaleza mas coincidentemente, nenhum fortalezence tem saudade da administração de Maria Luíza, a primeira petista a governar uma capital. Saudades das idas à praia do futuro quase todos os dias, de ir ao dragão do mar, das peças dos amigos, da negada (ops Carri, agora não podemos mais dizer isso e sim afrodescendentes). Caminhava entre as putas na beira-mar. Dava boas gargalhadas, ria para não chorar. Meu país não é infeliz como disse um amigo de um amigo meu. Procuro viver da melhor maneira que posso e sou feliz, mesmo longe do Ceará e dos amigos, nessa selva de pedra, onde também sou feliz. Conheço meu país demais pois fui gerado no Acre, nascido no Amazonas, criado no Ceará, passando por Santa Catarina e agora São Paulo. Não quero passaporte europeu. Morei na europa, sei como são infelizes os europeus no seu mundinho egoísta. Os americanos também. E como dizia o Nelson Rodrigues: O Brasileiro é um narciso às avessas pois cospe na própria imagem". O tempo passa. Os políticos passam. O inferno está cheio deles. Eu faço a minha parte. Nada mudará da noite para o dia, seja com PT, PSDB, Dem, o caralho. O que precisa mudar é o pensamento do homem. Eu procuro ajudar quem posso, é o mínimo que posso fazer, no mínimo com palavras. E viva o Brasil, puta que pariu!

Ricardo, um brasileiro.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Silêncio de domingo


Dia de jogo do Brasil pra mim é um saco. Eu não vou perder meu tempo assitindo um jogo. Aliás, perco muito pouco tempo vendo disputas. Prefiro assistir um filme que me fará refletir ou ouvir uma boa música. Ontem, o silêncio provocado pelo jogo Brasil X Paraguai foi sepulcral. A derrota brasileira foi uma delícia. O Paraguai mereceu. E Viva o Paraguai! As ruas ficaram silenciosas e o consumo de bebidas foi mínimo. Não ouvi fogos chatos. Pude usufruir um fim de semana sem igual. Sábado estava com saudade do mar. Então fui levado a passear no Guarujá. Atravessamos de balsa e chegamos a Santos. Voltar 16 anos depois à praia do Ilha Pochat. Lembro que ficava num quebra-mar entre Santos e São Vicente, sonhando com os transatlânticos que passavam. Períodos difíceis e de fome. Fiquei tomando suco de cupuaçu e rindo do passado. Na volta a selva de pedra, parei na casa da Dani e Vinícius, e tomei alguns copos de água.O mundo dá muitas voltas. Foi um túnel do tempo, cheio de recordações. E o melhor, no fim de domingo, o silêncio. Apenas o silêncio. E a chuva. E o frio.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Vermelho e Amarelo


Havia um conjunto de ilhas perdidas nos mares onde vivia uma colônia de pássaros brancos. Esses pássaros passavam a vida a migrar, em busca de alimento, calor e amor.
No meio desses pássaros todos, havia um diferente e vermelho. Vermelho cresceu no meio das diferenças.
Inteligente e determinado, voava sempre muito pois tinha sempre amelhor visão das coisas. Como não fazia questão de misturar-se com osdemais, era meio solitário. Alguns brancos passaram a admirá-lo e desenvolveram muito afeto por ele. A maioria tratava-o diferente mesmo.
Entre os amigos pássaros, havia sempre algum que apaixonava-se e queria estar mais junto do vermelho. Os anos foram passando e nosso pássaro rubro, já cansado da solidão e de voar muito, resolveu estabelecer-se numa ilha. Até aceitou o carinho de um branco. Mas o tempo mostrou que as diferenças eram enormes e eles terminaram por separar os ninhos quando Vermelho conheceu um pássaro lilás. Foi paixão imediata, pois foi a primeira vez que ele apaixonara-se por um pássaro diferente como ele. De imediato, constituíram um ninho. Os outros pássaros brancos não viram com bons olhos esse nicho.
Mas o tempo foi passando e algumas transformações foram acontecendo.
No início, quando a paixão e o amor eram fortes,Vermelho sentia enorme prazer em voar e buscar alimento para o ninho,e aos poucos Lilás foi se acomodando. Passados alguns anos, Vermelho começou a sentir a ausência de Lilás, que passou a ter o hábito de voar de novo e ir conhecer ilhas distantes. Um dia, cansado dos vôosdistantes de Lilás, Vermelho segui-o e viu que ele relacionava-se com outros pássaros, e aquilo foi motivo de muitas discussões domésticas.Uma manhã, quando Lilás anunciou que iria voar a uma ilha nova,Vermelho pediu para Lilás não voltar mais e Lilás partiu, não sem antes destruir todo o ninho que haviam construído. Depenado, Vermelho procurou refazer-se.
Passados alguns meses, Vermelho viu um pássaro novo na ilha:Amarelo.
Amarelo era mais alto e tinha vindo de terras distantes e decidira construir um ninho naquela ilha. Um dia encontraram-se e passaram a voar juntos. Um sentimento surgiu entre eles, mas Amarelo era mais jovem, e as vezes sofria por não saber interpretar os sentimentos.Vermelho passou a gostar profundamente de Amarelo, mesmo que Amarelo não lhe desse tanto carinho como esperava. Amarelo tinha sido diferente também na ilha que nascera. Crescera buscando um pássaro para construir um ninho mas nunca encontrara um que despertasse essa necessidade até conhecer Vermelho.
Amarelo adorava o calor, a inteligência de Vermelho, suas plumas, e até seus amigos. Mas era imaturo. Acostumado a vôos passageiros, ficava provocando os outros pássaros, coisa que Vermelho pedira que nunca fizesse, até odia que fora flagrado por Vermelho a fazer gracinhas inconseqüentes.Profundamente magoado e sentido-se humilhado, Vermelho anunciara que deixaria o ninho. Nessa hora, Amarelo acordou e viu que não conseguiria viver sem Vermelho. Sentiu-se perdido, solitário, mais doque nunca, naquela ilha onde encontrara o amor de Vermelho. Sim, ele descobriu o amor no exato momento em que Vermelho anunciara sua partida e sua dor. Amarelo não suportava causar dor em ninguém, ainda mais naquele pássaro que ele aprendera a amar e tinha desrespeitado o amor tão puro que recebera. Pediu que Vermelho ficasse, mas ele afastou-se. Amarelo, sozinho no ninho, sentiu que era um idiota, que tudo que sempre procurava , tinha já achado, apenas não enxergara isso. E chorou, como nunca tinha chorado. Chorou um oceano de lágrimas.Chorou mais ainda quando viu as lágrimas amargas de Vermelho e a dor que causara. Chorou que quis morrer, para acabar com tudo, mas não tinha coragem pois acreditava que morrer não era a solução.
Não suportava a ausência e falta de calor de Vermelho. Chegou a conclusão que somente cresceria se fosse ao lado de Vermelho, que era mais experiente e que poderia ajudá-lo. Procurou Vermelho, que com muita dor, recebeu Amarelo. Amarelo, entre lágrimas sinceras, pediu perdão a Vermelho. Pediu-lhe não que perdoasse os erros, pois eles seriam necessáriospara lembrar o que não deveria ser feito. Pediu-lhe que o ajudasse acrescer pois Vermelho sabia mais do mundo e por mais que Amarelo tivesse voado em mares distantes e ilhas diversas, não sabia nada.Nada. Que aprendera a amá-lo do tamanho de todas as gotas dos mares eoceanos. Que nunca dissera isso pois não sabia dizer eu te amo e tinha suas limitações. Vermelho tinha sofrido demais quando separara-se de Lilás. Amara quase instantaneamente Amarelo. Ouvindo as palavras deAmarelo, seu coração doera mais ainda. Queria perdoar e dar uma chance mas o medo de ser mais magoado ainda lhe aterrorizara. Amava Amarelo mas a dor e a humilhação que sentia era muito grande. E não sabia oque fazer. Amarelo queria construir outro ninho. Queria não esquecer o ninho passado, mas que ele fosse uma referência que acompanharia a vida dele juntos. Amarelo queria fazer um futuro diferente e não queria um futuro sem Vermelho. Que só pedia a chance de provar, com o tempo e com ações, que amava realmente Vermelho. Vermelho cedeu. Amarelo arrancou sua pena mais bonita e entregou a Vermelho como prova de amor e carinho.
Não foi fácil para ambos mas Amarelo procurou de todas as formas mostrar que amava sinceramente Vermelho. Não só com palavras mas com muitos gestos. E o tempo passou e eles voltaram a construir um ninho.Vermelho deu uma asa a Amarelo e ele pode crescer e tornar-se maduro, voando cada vez mais alto, mas sempre junto de Vermelho. Amarelo tornou-se um pássaro de verdade. Vermelho cresceu mais ainda.Tornaram-se pássaros grandes. E por muitos anos, Vermelho e Amarelo voaram juntos, até que um dia voaram mais alto e acharam o caminho das estrelas e não voltaram mais naquela vida à ilha.

Ricardo AS. Bessa

terça-feira, 27 de maio de 2008

ENTRE O LIVRE PENSAMENTO E A HIPOCRISIA DO “GLAMOR”

Ninguém pode agradar a gregos e troianos. E cada um pensa o que quer. Dizem que vivemos em um país livre. Mas somos ainda tãoo presos a pre-conceitos. Vivemos uma falsa alegria, que, as vezes, só existe porque queremos que ela exista. O brasileiro é um narciso as avessas. É incapaz de se unir por coisas sérias, salvos alguns momentos. O que poderia ser um momento de "clamor", domingo na Parada, passou apenas uma tentativa de glamour, ou como chamarei aqui, de "glamor". É o que penso. Será que ainda posso pensar? Mas o que seria esse glamor? A luta pelo direito de ir e vir? Talvez, mas não foi. Ninguém nem pode sair diferente que já tem alguém apontando o dedo. Ritual dionisíaco? Bem, nunca fui chegado a esses bacanais públicos. Não sou santo, mas quem é? Pedras choverão. Tem muitas coisas que não gosto, mas não vivo na rua apontando: ei, você , és feio! Cada um segue o caminho que escolheu. E muitos caminhos nos levam a solidão, porque esse é o sentimento mas comum que vejo entre os meus e o desconhecido que passa, e que muitas vezes eu paro, para conhecer um mundo que não é o meu. E como saída, muitos buscam o alcool em excesso e drogas. Viver é complicado. Tem dias que a vida é uma droga mesmo mas nem por isso vou cometer suicídio. Alegria pra mim é ir ao teatro e dar boas gargalhadas. Tou virando bicho. Sou bicho-gente. A selva de pedra está me fazendo mal. Mas sobreviverei a ela. E tomarei fanta uva, entre homens de bem e homens do mal.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

ENTRE LIBERDADE E LIBERTINAGEM


Domingo foi a 12ª parada do orgulho gay em São Paulo. Uma parada mesmo. O jornal noticiou que foram 5 milhões de pessoas. Brasileiro tem mania de exagerar. Não achei nem a metade disso mas tudo bem. Gente tinha demais sim. Me senti meio em marte. Qual o sentido do evento? Protestar, lutar, defender, diversão? O que vi foi muita bebedeira e libertinagem em plena avenida paulista. Vi muitas drags, umas pobres de jó, outras brilhando como o sol. Lá pelas tantas, fiquei pensando na falsa alegria e vida desses transformistas. A maioria ganha a vida na prostituição. Vida nada fácil. Poucos tem profissões definidas e estão bem empregados. Muitos vivem a fantasia de serem o que não são. Tantos homens e mulheres que deformam seus corpos, quando já não tem suas mentes deformadas de serem o que nunca na totalidade serão. Fico pensando nos carmas que cada indivíduo arranja pra si. Vi entre muitos que pediram passagem, uma "camioneira" numa cadeira de rodas. Não é preconceito não mas que carma aquela mulher-homem não carrega: feia, paraplégica, negra, lésbica e grossa. Me deu pena. Um evento que se diz o maior do mundo poderia ser melhor organizado. Nem um grande show tivemos. Quando passou o último carro, que mais parecia uma combi elétrica, me virei para o lado e perguntei: é só isso? Era. Vi todos os carros passando. Tomei duas fanta uva. Milhares de litros de silicone. Ainda bem que não me cansei muito. No fim, fomos beber um café na esquina da Oscar Freire com Hadocc Lobo. O dia terminara e a liberdade ficou no meu pensamento. Liberdade de que? A constituição diz que somos livres para ir e vir. Ainda bem. E cada um faz o que quer. Aleluia.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

OS HOMENS TAMBÉM CHORAM

Tem dias que acordamos e a cama pesa tanto. Geralmente, são dias quando acordamos mais cedo e temos que correr. Todas as terças são assim para mim. Correr para o metrô e depois, pegar o trem. O pior de tudo é ficar esperando o ferroviário e ficar sentindo o desagradável odor que o tietê exala, já que a estação fica nas margens deste famoso rio. Na melhor das hipóteses, eu não pego um trem lotado. Cheio sempre está. Ontem cheguei cansado. A Wil não tinha embarcado para New York e tive a carona amiga. Sempre discutimos sobre nossos amores no caminho. Mas cheguei e me joguei na cama. Ai, espiei a tv e tava passando "Mr. Holland, adorável professor", um filme que adoro e que toda vida eu choro no fim. Todo professor se emociona. E como chorei. Dizem que homem que é homem não chora. Não chora pouco porque, quando chora, sai de perto. Eu choro fácil. Sou um homem de muitos choros mas fui incapaz de chorar quando meu pai morreu. Nunca. Mas homens chorando, as vezes, é um saco.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

METADE DA VIDA


Acho que cheguei na metade da vida. Quando vejo o tempo para trás, tão efêmero, fico pensando nas transformações que o mundo passou e que eu vivi. Poucas mas algumas significativas. Lembro da morte de Chico Mendes, da queda do muro de Berlim, da eleições presidenciais, de algumas novelas, de Cazuza,Renato Russo e Cássia Eller, da insanidade de 11 de setembro. Melhor parar. Aos trinta e poucos anos, nossa percepção do mundo é diferente dos vinte e poucos. Começamos a vislumbrar a maturidade que deverá chegar aos quarenta. Há tanto o que aprender, e se possível, ensinar. Ontem, acordei cedo, e peguei caminho da faculdade. Peguei o terceiro trem que passou. Os anteriores, lotados. Entrei em um para não chegar atrasado e fiquei igual sardinha. Uma hora virei o rosto para o lado e uma moça chorava. Queria poder ajudá-la mas era um choro no meio de sardinhas. Ela desceu e nem pude acompanhar seu caminho com o olhar. Minha avó está morrendo. Oitenta e poucos anos de luta. Minha mãe está indo para seu lado. Serão dias tristes para minha família. Uma vontade de chorar me acompanha. Seria bom que deus a levasse logo. A alma é imortal. Estou cercado de pessoas que amo e que são importantes. A vida fica menos dura com essas pessoas. Amanhã é outro dia.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Domingo no parque


Domingo é dia de dormir até tarde. Se eu conseguisse, seria ótimo. Mas na noite anterior fui na virada cultural. Nada a declarar. Mas na manhã domingal, fui surpreendido. Ainda fazem pessoas como antigamente.Risos. Café da manhã na padaria é tudo. Depois, passeei na feira de antiguidades do Bixiga. Tinha até fofão. Ai que medo. O almoço, bem, não foi um almoço comum, mas estava desejando um cachorro quente e fui comer um na barra funda. O quiosque era de uma cearense, que mexendo na árvore genealógica, chegamos a conclusão que somos parentes. Ainda engoli uma abelha. Depois, passeio no memorial da américa latina, encontro com Renata e Beatrice, visita ao pavilhão da criatividade e por fim, o circo. Eu esperava mais do espetáculo circense, mas foi meio água com açúcar. Não me empolgou muito mas dei algumas rizadas. E no fim, televisão em casa e o show da vida.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

ESTÔMAGOS


Ontem minha amiga Renata não estava bem e convidei-a para almoçar no centro de cultura judaica, pertinho de casa. Então, foi minha primeira vez com a comida kosher, como os judeus a denominam. Na culinária deles, tudo tem um sentido.Tudo tem um simbolismo incrível. Lembro que o pão não tinha fermento porque eles não tiveram tempo de fermentá-lo, na fuga para o egito. Eles não comem nada derivado de porco. E eu adoro bacon. Fui pesquisar um pouco. Cada bocado de comida que entra em nossas bocas em uma oportunidade é para cumprir uma mitsvá, um preceito. De maneira semelhante nossas opções pelo alimento e estilo de vida podem nos capacitar a seguir os preceitos da Torá para a preservação da vida humana e da saúde. Muito interessante. Mas vamos às minhas considerações. Ao olhar os pratos, observei tudo com muita curiosidade. Eles adoram comidas agridoces. Eu também. Não comi todos os prastos mas a lasanha de beringela estava maravilhosa. Provei de tudo um pouco e somente senti falta do arroz. Achei muito gostoso. A sobremesa foi uma fatia de bolo de chocolate com nozes. Delícia. A tarde, não senti muita fome, e fiquei feliz de ter me alimentado saudavelmente. A noite, fomos ao cinema. Que filme? Estômago. Haja estômago.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Guerreiros de Jorge


"Eu andarei vestido e armado com as armas de São Jorge para que meus inimigos, tendo pés não me alcancem, tendo mãos não me peguem, tendo olhos não me vejam, e nem em pensamentos eles possam me fazer mal". Dia de São Jorge. Fé é o que mais temos e vivemos como guerreiros, no dia-a-dia. Ontem, indo para a faculdade, vislumbrei um belíssimo arco-íris duplo. Olhei-o até perde-lo de vista. Fiquei pensando que seria um dia diferente. Foi um dia calmo. A noite trouxe uma lua linda. A noite também tremeu, apenas cinco segundos. Praticamente passaria despercebido mas aqui a cama também tremeu. Não houve sustos. "Glorioso São Jorge, em nome de Deus, estenda-me o seu escudo e as suas poderosas armas, defendendo-me com a sua força e com a sua grandeza, e que debaixo das patas de seu fiel ginete meus inimigos fiquem humildes e submissos a vós. Assim seja com o poder de Deus, de Jesus e da falange do Divino Espírito Santo". Não importa o tamanho de São Jorge, e sim o tamanho da fé. Quando vivo numa cidade tão grande, tantos desempregados e pessoas passando fome. Muita fome mesmo, pois formam-se grandes filas em certos lugares, atrás de um prato de comida. Pior do que a pobreza é a falta de afeto, de solidariedade, que gera essas filas. Quando vejo certos luxos aqui, me incomodo muito. Um dia o mundo muda. "São Jorge Rogai por Nós". Jorge-Ogum. Axé.Amém.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Perdas e partidas


A vida é uma constante de perdas e partidas, e muitas vezes não estamos preparados para o fenômeno morte. E a morte é a única coisa certa em nossas vidas. Ontem, escrevi para uma amiga de trabalho, perguntando se estava tudo bem por lá. A noite ela me escreveu, comunicando a morte de um amigo, o Jorge. E como é engraçado a vida. Ontem mesmo procurei um outro amigo aqui em sampa para falar do Jorge e dizer que ele estava gravemente doente. Não deu tempo. Tive que comunicar a morte do amigo. E a morte de um amigo pesa muito. Lembro-me dele, no primeiro dia de aula. Já formado e com anos de experiência, ele desejava ter um diploma de estilista. E teve. Um excelente desenhista de moda. E ano passado, quando ele precisou afastar-se, fui ser seu substituto temporário. Encontrei um ambiente contaminado pelo bom humor e carisma do Jorge. Fechando os olhos, ouço as gargalhadas. Lembro de muitos momentos, dos quatro anos que convivemos juntos, como colegas de falcudade. Ele partiu para uma melhor. É a vida. Ficamos nós. Vá em paz, Jorge.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Dia de domingo


"Alguma coisa acontece no meu coração, quando cruzo Ipiranga com avenida São João". Ontém cruzei a Avenida Ipiranga com a Avenida São João. Lembrei-me de quinze anos atrás, quando morei nessa esquina. Mas meu dia começou bem antes.Pode-se fazer muitas coisas num domingo em São Paulo. Primeiro, tomar café da manhã numa típica padaria paulista, de preferência, em boa companhia. Segundo, ir à feirinha de antiguidades embaixo do Masp e encontrar um Rolls-Royce no estacionamento. E branca, linda. Depois, ir à Praça da República e arrancar muitos sorrisos. Passear entre as barracas, olhar quadros e observar casais diversos, seja um grupo de judias ortodoxas vestidas dos pés à cabeça, seja um casal de homens, de mãos dadas, como um casal, comum, num dia de domingo. Mas o que seria um casal comum? Um casal que se gosta, que se ama, que paga suas contas, que respeita a sociedade e não deve satisfação de nada. Vi uma certa evolução na atitude dos dois. Ninguém se espantou. Amém. O mundo está mudando. Pouco, mas está mudando. Ainda caminhei até o Teatro Municipal e tentei comprar em vão os ingressos para Madame Butterfly em Junho. Esgotados. Depois fui almoçar num restaurante bahiano em Higienópolis. Uma comilança. Suei com o cozido bahiano. Ainda bem que o carro tinha ar condicionado. Em casa, tirei uma soneca, no fim da tarde. Uma soneca cheio de carinhos. E por fim, o domingo termina com o Miss Brasil. Ceará ficou mudo em segundo lugar e mais uma vez deu Rio Grande do Sul tchê. Fim de domingo.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

HOMEM-BESTA


É incrível como uma tragédia, como a da garota atirada de um prédio muda para pior as pessoas. Aliás, tragédias sempre chamam atenção. Mas há um lado ruim nisso tudo. Hoje, vendo na TV, o momento em que o pai saíu da cadeia com um hábeas corpus, fiquei triste. O carro cercado, algumas muitas pessoas tocando o automóvel e dizendo xingamentos. Ainda não foi denunciado um culpado. Sendo ou não sendo, como o ser humano perde seu tempo, saindo de sua casa, ocupando-se de um problema que não é dele. Desejo que os pais não sejam culpados, para que aquelas pessoas que não tem nada melhor o que fazer na porta das delegacias, fiquem relegadas ao ridículo. E mesmo que a polícia ache os culpados, ninguém tem o direito de dizer nada. Um assasinato é um crime terrível. Mas, como acredito em Deus e em vida antes e depois dessa, sempre penso que ninguém pode atirar a primeira pedra, nem a última.É a besta, diria o apocalipse. É o ser humano-besta. Como sempre alerta minha mãe: "Nunca deixe de rezar antes de sair de casa".

segunda-feira, 7 de abril de 2008


Há muito tempo não tinha um fim de semana agradável. Na sexta, passei horas procurando um memory disk para uma amiga. Uma chuva caía e me estressava. Lembro de ter subido o metrô na escada rolante e uma brisa fria acariciou meu rosto e me lembrei imediatamente do mar. Como o mar faz falta. E alguem atendeu meus pedidos e me levou ao mar. Tudo bem que o mar de Maresias não é a mesma coisa. Não é mesmo. Praia estreita e quase ninguem na areia. O tempo não estava bom. Mas como o lugar era reduto de surfistas, eles estavam em todos os lugares. Só posso dizer que fui surpreendido. Boa surpresa. Um fim de semana de carinho e afeto. Nossa, e vivemos carentes disso, e quando recebemos, somos desarmados. É claro que devemos retribuir e tentei retribuir o mínimo. Tentei buscar o Ricardo perdido há algum tempo. Na saída, muitos abraços e um gato negro sobre o carro. Lindo. Egípcio. Voltamos debaixo de chuva. Muito bom voltar ao lado de alguém agradável e inteligente. E muitas outras qualidades. Fico lembrando e sorrindo. Amanhã é outro dia. Mas que passe logo a semana. Aleluia.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Cores da vida


Há alguns dias não escrevo. Preguiça mesmo. Andava meio bege.Semana passada, estava em Curitiba, revendo lembranças e uma amiga. Uma semana de tranquilidade . Muitas mensagens trocadas com alguem.Ontem fui na 25 de março. No metrô, algumas coisas e pessoas me chamaram atenç o. Uma m e empurrando a cadeira de rodas da filha. Um carinho imenso ao cuidar daquele ser. Havia uma pobreza latente em suas roupas. A cadeira de rodas era rosa e nas roupas da garotinha predominavam a cor rosa. A vida em cor de rosa.Fiquei pensando no sacrifício de muitas m es por seus filhos deficientes. Durante o percurso, a m e p e a filha no colo e dá-lhe uma banana para ela comer. Era surreal aquele momento. Reparei em outra mulher, cabelos mal pintados, mas o que me chamava atenç o mesmo eram os olhos vidrados e parados, e o constante sorriso. Pensei que ela poderia ser cega, mas numa estaç o, ela desce, sorrindo, os olhos ainda vidrados, e seguiu. A m e tambem segiu com sua filha. Durante o dia essas imagens ficaram gravadas. As vezes temos tudo e n o conseguimos ser felizes. E ontem, vi, essas pessoas, aparentemente, sem muitas coisas, mas numa paz, seguindo seus caminhos. Nos últimos dois dias, tenho sentido uma paz. Alguem tem me proporcionado uma tranquilidade prazeirosa. A vida anda rosa. Azul. Verde.

sexta-feira, 14 de março de 2008

Cachorras pequinesas

O tempo e o vento. Quando chove aqui em São Paulo, ficamos apreensivos. Tudo pode acontecer. Mas ao menos as chuvas amenizaram o calor. Tudo é mudança em mim. As mudanças de tempo me causaram uma gripe tenebrosa. Uma semana nesse sofrimento. E haja lenço de papel. Ontem fui caminhar nas calçadas dos chiques e famosos. Nada me atraiu. Louis Vuitton não siguinificou nada. Tudo bem que nunca tinha visto uma Ferrari verde. Verde Limão. Ando me concentrando na minha dissertação. Buscando mais inspiração. E no entra e sai de um metrô, observei uma cena inusitada. Na estação Brigadeiro, o carro parou por um instante com uma queda de energia. Quatro moças conversavam sobre seu trabalho. Provavelmente eram enfermeiras, pois minutos antes discutiam sobre procedimentos cirúrgicos. Qual a graça de tudo isso? Uma delas disse que tinha comprado um sapato escândalo e que trocaria ali mesmo pois ninguém observava. Eu observava. Ela trocou seu scarpin amarelo por uma sandália alta prata. E a luz chegou e o metrô seguiu. Fiquei me lembrando dos sapatos Louis Vuitton de hum mil e quinhentos reais. Era um sapato muito feio. E nisso me lembro das mulheres pequinesas dessa cidade. Parecem cachorros saindo de uma petshop depois de serem penteadas. Querem ser tanto e nao são nada. São sim, ridículas cachorras pequinesas.

segunda-feira, 10 de março de 2008

Filmes da vida

As vezes, a gente se pergunta: Porque vemos o mesmo filme várias vezes? Ontem e hoje, vi pela enézima vez ,"Um lugar chamado Nothing Hill". O filme tem o canastr o do Hugh Grant no papel do tímido livreiro. É um filme que fala da busca e espera do amor. Ensina-nos a viver. Quantas situaç es queremos submeter certos amigos, apresentando pessoas, que esperamos bem ou mal, correspondam as car ncias desses amigos. O filme mostra um pouco disso. Mas ontem fui assistir um espetáculo chamado "Arrufos". Lindo. Fala sobre o amor e suas vertentes em diferentes épocas. Quando acabou a peça, sai do espaço onde aconteceu a encenaç o e fiquei esperando as meninas do movimento canelau. Vários casais se beijando.Vários tipos de casais, diga-se de passagem. Dormi pensando no sofrimento do jovem Werther. Dormi pensando num amor que tive, ou melhor, tenho, porque amor que é amor vai a eternidade. Mas a tristeza maior da minha vida, foi ter que me afastar desse amor para que a raz o e o bem prevalecesse. Naquela época, sofri calado. Adoeci gravemente mas me resguardei. N o me arrependo do que fiz. Respeito o sil ncio e a frieza de alguém que n o aprendeu a viver plenamente. Dias desses, na mudança, encontrei umas cartas desse passado. Trouxe-as comigo. Servir o para algo muito importante. S o a prova que eu estava certo. Mas terei que esperar pela eternidade para estar cara a cara com a verdade.Ou n o. Filmes da vida.

quinta-feira, 6 de março de 2008

Mundo pequeno mundo

Peguei a primeira gripe do ano.Está um calor infernal nessa cidade. Ontem foi meu primeiro dia de aula do mestrado. É bom voltar aos bancos. Tive que acordar cedo e correr para pegar o metrô, pegar a ponte orca, pegar o trem. Ufa, uma viagem e tanto. Nas estaç es tocavam Piaf. Dentro do trem, músicas clássicas e um maravilhoso ar condicionado. A turma é meio heterog nea e a aula inaugural n o foi lá essas coisas. Hoje fui a 25 de março. Olhar tecidos. Achei uma loja fantástica. Me vi uma hora no meio do rapa. Fiquei com pena, pois todos est o tentando ganhar a vida. Na volta resolvi n o pegar o metrô e fui caminhando até a praça da república. No viaduto do chá, cruzei com um rapaz negro vestido com uma blusa verde lim o. Ele se destacava da multid o. Mais adiante, quando pensei que já tinha visto tudo, encontro uma mulher negra de cabelos oxigenados. Uh terer !E quando desço o metrô consolaç o, dou de cara com um ex-aluno meu de Fortaleza. Mundo pequeno mundo.

segunda-feira, 3 de março de 2008

A vida se renovando

Andar pelas ruas de Sampa sempre nos traz uma surpresa, seja encontrar uma amiga na Paulista, seja encontrar um amigo de Fortaleza na 25 de março. O mundo é pequeno. Tenho caminhado muito por aqui. Sexta passada fui ao Masp. Fiquei observando o retrato de Suzanne Bloc, aquele que foi roubado e recuperado. Não era a melhor obra da coleção. Havia os Van Gogh e Renoir. Havia muitas coisas, aliás. A exposição sobre mitos era uma maravilha. Depois fui almoçar no restaurante de lá. Pequenos prazeres. Grandes prazeres. Ontem fui ao teatro ver “Gota D’água” de Chico. Esperei anos para ver uma montagem. Três horas de espetáculo. Maravilhoso. Fabuloso. E hoje, saindo do metrô, uma mãe amamentando seu filho na escada me chamou atenção. A vida se renovando. C’est la vie.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Amor e restos humanos em SP.

Nos últimos dias, ou melhor, poucos dias, desde que cheguei em Sampa, tenho visto muitos restos humanos. Sábado, vi os restos de Livia Linda Benita Guerra. Depois, cantina e tudo acaba em pizza. Antes, como bendito fruto, estava rodeado de mulheres inteligentes a discutir a vida e mais restos humanos. Ontem fui aos sets com a Renata. Cinema é a arte da espera. E da paciência. Almocei com a equipe e depois fomos a Cotia. Uma chuva. Rio alagando. Esperamos a tormenta passar e voltamos. Paramos numa padaria e jantamos. Não existem padarias melhores. Hoje, caminhei muito. Fui ao cartório e correios. Caminhei e observei muitas coisas. Como a bonequinha de luxo, fiquei olhando a vitrine da Tifanny's. Sem as rosquinhas. A vida começa a caminhar.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

INÍCIO DO FIM

Faltam poucos dias para a mudança. Comecei a viver o início do fim e começo a enxergar muitas coisas com cores diferentes. Tenho tentado fazer coisas que não poderei fazer mais na selva de pedra: caminhar na beira-mar, admirar certos lugares até então inexpressivos, deliciar-me com coisas que só existem aqui. Ontem fui comer caranguejo e não fazia isso há muitos anos, às quintas-feiras. Mas meu objetivo era juntar um casal. Eita povo difícil. Depois fui dançar e dancei muito. E outras coisitas mais. Hoje, muito cedo, se é que dormi, lá estava eu madrugando na receita federal para resolver uma pendência. Pendências resolvidas, fui ao centro. Foi onde mais vi o cotidiano diferente. Entrei numa padaria e pedi cuscuz, tapioca, suco de laranja, café e água. Breakfast at Tifanny’s. A moça que me atendeu sempre sorrindo e toda solícita. Achei que estava me paquerando. Andando nas ruas, observando os passantes, parando para dar esmola a uma mulher com o filho tetraplégico, Fortaleza estava diferente. Ou seria eu que estava mudando? Faltam 8 dias.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Paraísos


O que é o paraíso? Talvez seja um estado de satisfação quando obtemos alguma vitória. Talvez seja o momento em que o orgasmo transborda de nosso ser. O paraíso poderia ter muitas definições mas a cada dia acho que vivemos mais perto é do inferno. Viver é incômodo já dizia sabiamente Clarice Lispector. Chega o início do ano, chegam os impostos infernais. Contas e mais contas. E se estamos sós, vivemos o inferno astral da solidão e da carência. Hoje, dirigindo, um motorista deu uma banana pra mim pois dei uma buzinada para ele acordar. Eu ri. Não quero um dia infernal. Ontem estava atrás do paraíso. E vi diversos. Paraísos artificiais. Momentâneos. Efêmeros.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

O cantor

Em “My Way” sentiu uma tontura mas cantou até o fim. Há vários dias sentia-se mal e sua magreza já chamava atenção. Alimentava-se mal e até o maestro já tinha-o chamado atenção. Hilton não conseguia mais acompanhar o pique da orquestra. Quase todas as noites havia bailes e o carnaval aproximava-se. No último baile, em “Besame Mucho” tombou desmaiado, assustando os idosos do baile da terceira idade da Sociedade Campestre Estrela.
Acordou no hospital. Ainda não tinha amanhecido. O médico diagnosticou falta de alimentação e anemia profunda. O maestro deu-lhe uma licença e Hilton voltou para casa. A mãe recebeu-o cheio de caldos e comidinhas. Preocupou-se com o estado do filho. O pai aconselhou-o a comer mais. Fazia tempo que não parava em casa e aqueles carinhos todos foram muito bons. Carinho de mãe não é igual.
Fizera todos os exames. A pele estava coberta de manchas. Usava camisas de mangas compridas para não verem, mesmo que a temperatura fizesse 40 graus. O último médico, sem um diagnóstico conclusivo, pedira um exame de HIV. Um medo que tirava-o o sono e o resto do apetite tomara-lhe conta. Tivera algumas relações homossexuais, algumas até irresponsáveis, mas sempre se cuidara.
O envelope tremia em suas mãos. O suor banhava-o. A moça do laboratório sabia o resultado que havia naquele envelope. Convidou-o a uma outra sala. Dera-lhe um calmante. Hilton tremia e uma sensação de solidão tomara-lhe o espírito. A moça, muito carinhosa, conversou longamente com ele. Passou-lhe uma folha com nome de alguns médicos e o que ele devia fazer nos próximos dias. Hilton ouvira e concordara com ela. Iria procurar o melhor médico. Não era o fim do mundo. Ninguém morria mais de Aids. Morria de ignorância. De repente, uma onda de tristeza tomou conta e iniciou um choro longo. Precisava falar, se não explodiria. A moça que não sabia o nome ouviu tudo e abraçou-o. o choro aliviou-lhe a tensão e levantou-se para ir para casa. Prometeu ligar para a moça. Para Cláudia. Saiu.
Andou algum tempo até pegar o ônibus mas antes parou num mercadinho. Chegou em casa sorridente. A mãe estranhara-lhe o bom humor. Mas nada comentou. Hilton pedira para não ser incomodado porque iria dormir um pouco. Tomou um banho demorado e trancou-se no quarto. Escreveu uma carta e abriu a janela. Ventava. Despediu-se do vento. Picotou o exame em muitos pedaços e jogou-os pela janela. A carta fora levada pelo vento para debaixo da cama. Pegou o veneno para rato e misturou num copo de suco que a mãe preparara com carinho. Tomou tudo de um gole. Aos poucos, tudo em seu estômago passou a queimar. Um grito foi ouvido do quarto. A mãe não tinha certeza se ouvira realmente um grito mas bateu na porta do quarto. Ouviu uns gemidos. A porta não estava trancada. Abriu. Hilton retorcia-se no chão. Não conseguia falar. Estava morrendo. A mãe gritara pelo pai, que veio andando lentamente, porém aflito. Deparou com uma cena de Pietá no quarto do filho. Fez um esforço sobre-humano e correu para o telefone. Uma ambulância. Quando os para-médicos chegaram ainda tentaram uma lavagem estomacal mas o veneno fora mais rápido. Os gritos de uma dor atroz foram o último canto de Hilton. Os pais ficaram em estado de choque. Fecharam o quarto e foram passar um tempo com o filho mais velho em outra cidade.
Alguns meses mais tarde, o quarto de Hilton fora reaberto pela cunhada, que encontrou a última carta debaixo da cama. Abriu e leu:
“Queridos pais,
Perdão. Desisti de viver. Amo vocês. Queria ter sido o engenheiro que papai queria. Queria ter sido o advogado que mamãe queria. Mas fui estudar canto, que era o que queria. A vida me levou por caminhos que me mostraram o lado negro das coisas. Não vou mais viver. Por favor, não sofram. Apenas desisti de viver. Com amor, Hilton.”
“Egoísta” sussurrara a cunhada. Guardou a carta no bolsa e mais tarde queimou-lhe. Não faria os sogros sofrerem mais. Para ela, todo suicida era egoísta. A família ainda sofria. A casa foi vendida alguns meses mais tarde.

domingo, 20 de janeiro de 2008

SEGREDOS E MENTIRAS NAS AMIZADES EFÊMERAS


Cada dia desperto com maior surpresa para o mundo. Ou não.Vivemos entre segredos e mentiras. Quem é mais hipócrita? Aquele conta um segredo não tão segredo assim, ou aquele que fez parte e criou um segredo? Senhoras e senhores, eu vou confessar a límpida e exata verdade histórica: somos todos hipócritas. Quem são nossos amigos? São aqueles que nos traem pelas costas? São aqueles que comem na nossa mesa e mijam nos nossos banheiros? Eu tenho fama de falar demais. É verdade. Mas ninguém poderá dizer que sou hipócrita. Meus segredos são públicos. Eu sou público. Não tenho o direito de contar nada a ninguém. Por falar sem pensar, naquelas provocações cotidianas, de repente, “soltamos uma pérola”. Que sociedade medíocre a nossa realmente. Sou medíocre então. Mas não o maior de todos. Irei partir. Se restar só um amigo, irei feliz. Será um amigo para contrariar a máxima que não temos amigos. Então terei um. Espero que não medíocre e hipócrita como eu. Eu não fico com “amigas” de amigos. E se desejo um doce que o vizinho fez, eu falo em alto e bom som que quero aquele doce. Não vou comer escondido o doce do vizinho, que por sua vez já tinha comigo o doce de um colega, que por sua vez já tinha saboreado os doces de muita gente. Muitas formas de amar. Carências. Eu sou o pecado. Joguem todas as pedras. Mas cuidado. Algumas podem voltar. Me digam ai quem é meu amigo. Posso ter defeitos mas tenho qualidades. Mas tenho grandes defeitos. Ai, as pedras. Vamos ver quantas amizades são efêmeras. Quantas pedras teremos no caminho.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Estar só.


Quando perdemos o amor próprio começamos nossa maior derrocada. Conversando com uma amiga, fiquei a pensar no que é necessário para sermos felizes. Ela me disse que não precisamos além de nós mesmos para sermos felizes. Fiquei a pensar. Ela não deixa de ter razão. Muitas vezes, devido às carências e fragilidades nos tornamos infelizes porque achamos que para alcançarmos a felicidade temos que estar com alguém. Sim, é ótimo estar com alguém mas nem sempre é a solução para nossos problemas afetivos. Começo a pensar que sozinho não é tão ruim assim. Não é o ideal mas que tem suas vantagens tem. Vou pensar mais.

sábado, 5 de janeiro de 2008

COISAS QUE PERDEMOS NO CAMINHO


Ontem, indo ao cinema, vi , me vi, me senti, senti. Era o clima de violência. Não foi nada mas ao meu lado o ronda do quarteirão parando um carro e os policiais saindo de arma em punho gritando: mãos ao alto! Não fiquei parado esperando o desfecho. Acelerei. Estava em cima da hora para ir ao cinema com uma amiga. Não sabíamos que filme veríamos e escolhemos um ao acaso. Doce acaso. Chorei. Ando chorando demais. Uma certa fragilidade de quem vai se despedir das coisas cotidianas de Fortaleza. Mas chorei pela sensibilidade do filme. Falava de perdas e de amizades verdadeiras. Quantas amizades eu sustentei e sustento com esforço. E quantas não dão valor a minha amizade. Saí do filme com uma vontade enorme de escrever e pensar nas perdas e nos amigos. Filmeterapia. Quantas coisas não perdemos no caminho. Quantas coisas não perdemos no fogo. Preciso listar algumas perdas para ver se recupero algo. Algo que só eu sei.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

O AMOR NOS TEMPOS DE HOJE


“O amor é o calor que aquece a alma” já cantava o Jquest. Esses dias assistindo “O amor nos tempos de cólera” refleti muito sobe o amor. Os homens estão perdendo a magia dessa palavra pois estamos vivendo num mundo onde as emoções passageiras estão sendo prioridade. Eu não sou assim. Não sei o que se passa comigo. Não sou nenhum santo, mas cada dia que passa, até nos lugares mais esdrúxulos onde a emoção-tesão é maior que a razão, me sinto perdido. Pessoas tão vazias. Sou do tipo que manda flores, escreve poemas, mas as vezes me sinto tão frágil, tão suscetível a quebrar a cara com as carências que nos fazem cometer loucuras. E quando olho ao meu redor vejo que não é só eu. Mas ainda acredito no amor. Acredito demais. Por que não? Isso me acalma quando chego em casa e me deito abraçado com meu travesseiro solitário. A vida também é feita de escolhas. Já fiz péssimas escolhas. Mas também tive o privilégio de ser amado e amar pessoas fantásticas que me dão a certeza que vale a pena continuar nessa busca. Cada dia mais me preparo para o grande desafio da vida: envelhecer sozinho. Nem todos vamos casar e ter filhos. É a vida. Tem gente que se ilude com isso. Pior é ver tantos jovens, sofrendo tão cedo e nem viveram ainda o bastante. Não sabem como realmente a vida funciona. Só aprende-se a viver, vivendo.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

O REVEILLON DE ROUPA NOVA

Eu nunca gostei de reveillons. São tantas promessas que não vão ser cumpridas e uma fraternidade universal que as vezes soa falsa. Mas esse ano eu fui parar o Náutico Atlético Cearense graças a uma amiga que resolveu me tirar da depressão de fim de ano. Eu não tinha um tostão mas aceitei o convite de ir a um dos clubes mais elegantes da cidade. Era o reveillon com Roupa Nova, aquela banda que canta tanto o amor. Logo eu, que sofro de amor compulsivo, iria sofrer mais ainda. Mas lá fui eu pegar minha amiga e uns amigos e fomos a festa. Ate de roupa nova eu estava. Minha amiga me recriminou pois tinha jantado com minha mãe e que não deveria ter feito isso pois na festa teria buffet livre. Bem, o trânsito foi tranqüilo e chegamos cedo. Mudaram nossa mesa quase para trás do palco. Minha amiga, revoltada, foi brigar e arranjar outra mesa. A organização não estava nem aí. Mas que organização?Findamos por ocupar uma mesa ótima e vi o show bem pertinho. Pulei, dancei, ri muito. E o buffet? Bem, a comida logo acabou e gerou revolta para quem não tinha jantado. Venderam 2 mil ingressos e contrataram um buffet pra 100 pessoas. Eita pobreza. Todo mundo bebendo e com fome. Que festa chic essa do Náutico.Minha amiga ficou chateada. Só sobrou farofa e umas poucas frutas. Revolta total. Alguém chamou a polícia. E soube que a banda ameaçou não cantar pois achou o palco muito pequeno. Bem, eu me diverti. Ri. Ate chorei mas ninguém viu. Ri demais das peruas. Tinha ate gente usando vestido feito com tecido de toalha. Bem criativo. E não choveu. Sobrevivi a mais um reveillon. Amem.