terça-feira, 27 de novembro de 2007

Saga Paulistana

A saga paulistana continua. Ontem fiquei esperando a chuva passar em plena Rua Augusta. Aqui, chuva é uma droga. Comprei um novo guarda chuva. Advinhem a cor? Quem pensou laranja, errou. Vermelho. Peguei o metrô e cheguei em casa. Ainda tinha Lipovetsky para devorar. Devorei uma parte e fui tomar vinho chileno na casa de uns amigos da renata. Jogo de advinhação do nome de um filme. Perdi hum real. Depois cama e rolar de madrugada com a ansiedade. De café da manhã, mais Lipovetsky. O dia amnheceu uma garoa e neblina. São Paulo típica. Renata me deixou na estação de trem. O ultimo trem que andei foi o trem bala em Paris. Há muitos anos. Chegou a máquina, muitos tipos a bordo. A maioria com sono. Eu tambem. Cheguei, desci, andei algumas quadras e lá estava o Senac, onde faria as provas. Lugar lindo. Que diferença. Bem, caiu exatamente o texto do livro que nao tinha encontrado. Mas era so para interpretar. Bem, lá fui eu. Oito páginas depois, terminei. Tudo doía. Sem falar que nunca tinha visto falhar 3 canetas seguidas na minha mão. Devia ser o papel. Primeira parte da missão estava cumprida. Restava a entrevista, quinta. E lembram do guarda-chuva vermelho? O cabo de madeira acabou de quebrar. Que droga.

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Viver e morrer em SP.

Sampa traz boas reflexões sobre o cotidiano. Passei o fim de semana lendo os livros para a prova do mestrado. Nada de baladas. Quase pirei e minha vista ficou muito cansada. Moda, cultura e arte. Mas é muito melhor que ler sobre teatro. E aí vai uma crítica aos pensadores de teatro: cultura não é um reino de citações e parágrafos inelegíveis. Mas voltando a viver e morrer em SP, hoje, caminhando pela Paulista, fiquei observando os passantes. Homens bonitos e engravatados em passo rápido. Bons ternos. Uma mulher a esmolar, sentada num banquinho, fazendo crochet. E uma louca, bem, normal não poderia ser, na porta de um fliperama na Augusta, mistura de paquita atômica e chacrete, bota, sainha curta mostrando a polpa da bunda, meias arrastão. Mas o melhor de tudo foi ficar estudando dentro da Livraria Cultura. Queria morar lá dentro. Um dos melhores lugares do mundo. Quarta volto la. Viver e morrer em Sampa. Mas não para sempre.

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Fantasmas

Ontem acordei cedo para pegar um ônibus para Bodocó. Rodoviária do Crato vazia. Três horas de espera e veio a Viação Pernambucana. Mais duas horas de viagem e eu ligo avisando minha prima que ia chegar atrasado para o almoço. A vegetação mexe muito comigo e fui interagindo com a paisagem e meus pensamentos foram longe. Fazia uma década que não percorria esse caminho. Alguma coisa nos últimos dias me deixou depressivo. Algumas lembranças do passado andaram me assombrando também. Quantos fantasmas nos assombram. Ando assombrado.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

SECAS


Domingo estava vindo para o Cariri e algumas dores me incomodavam, mas nada que tirasse meu humor. Fiquei ouvindo música, acompanhando a seca paisagem. Pior que a seca vegetal, era a secura dos homens. Fui acompanhando o sol sumir num espetáculo indescritível e a noite vindo, anoitecendo e eu rezando com as estrelas por todos aqueles que me são caros e que a saudade bate nessas horas. E como a saudade fica enorme. Já era noite e meu papo com o céu continuou por muito tempo. Depois de anos, voltei ao Crato. Um calor sem precedentes. Muitos espetáculos acontecendo. Fui assistir uma peça que falava sobre a morte, diversas mortes. Quase duas horas. Quase morro. Comecei a sentir dor, mas resisti. No fim, lingüiça fria. E fui ao Crato Tênis Club ver os amigos. Não agüentei muito tempo. Sono. Mas os dias tem sido tranqüilos na oficina. Conhecer pessoas e realidades diferentes. Quantas secas conhecemos mais ainda. Hoje, vendo a dança dos índios tentava apagar uma tristeza dentro do meu coração. E foi bom ver aquela dança cheia de significados e mistérios. Aliviou meu coração. Aliviou a secura daquele momento. Amanhã, Bodocó.

Sem resposta


Ouviu alguém rezando baixinho. Os olhos pesavam. Sentia-se fraco, sem forças. Abriu os olhos. Ficou observando o teto. Olhou o braço e havia um scalps na veia. Lembrou de tudo. Um sentimento de vazio, inutilidade, raiva. Lágrimas rolaram e puxou por fim o soro da veia. Tentou levantar-se. Queria jogar-se pelas janela, mas não conseguiu. Uma tonteira o derrubou. Sua mãe , que estava ao lado, saiu de sua oração com o susto e gritou por ajuda, correndo para o filho. A enfermeira chegou e ajudou a pô-lo na cama entre lágrimas de felicidade e tristeza. O filho deixou-se levar. Nenhuma palavra. Nenhum questionamento. Nenhuma resposta. Não queria mais ver ninguém. Nem as lágrimas maternas o comoveram. O único desejo era morrer. Não queria mais pensar em futuro. Somente o nada. Passaram algumas semanas. Os médicos deram alta. Não podia viver mais só. A mãe passou a vigiá-lo 24 horas. Mal comia. Se não deixavam ele cometer suicídio, decidiu morrer de fome. A mãe chorava escondida pelos cantos de casa, sentindo-se culpada e arrependida por algo que teria feito mas que não sabia o que. Os amigos do trabalho, no início, ainda procuraram visitá-lo no hospital, saber notícias, tudo inútil como todas as vezes. A família também apareceu, mas como veio, partiu ligeiramente. Todos tinham seus doentes para cuidar. Só queriam matar a curiosidade mesmo. Notícias ruins sempre corriam e serviam para abastecer as rodas familiares. Mas dessa vez, foi inútil. No banco, era funcionário exemplar. Não era chegado às aventuras. Tivera poucas namoradas. Não era também de noitadas. Sempre chegava cedo em casa pois a mãe ficava esperando, como todo filho único de mãe zelosa. Muito cogitou-se mais nada. Ninguém tinha uma explicação. Chegou a um ponto que foi necessário interná-lo de novo. Alimentava-se por sonda. A mãe envelhecera 30 anos em 6 meses que durava esse tormento, nesse silêncio. Estava enlouquecendo aos poucos de dor e depressão. Agora eram dois doentes. Procurara muitas opções e achara algumas culpas pelo estado do filho. Precisava de um motivo e agarrara-se a um que achou mais conveniente. Não suportaria ver o filho morrer. Tinha que morrer também. E foi fácil. Um dia driblou as enfermeiras e saiu do hospital. Um carro atravessou seu caminho e despedaçou-a. Procurou um fim para sua culpa e achou. Ele ainda abria os olhos. A respiração ofegante. Apareceram uns familiares. Sussurram os últimos acontecimentos . Um primo mais exaltado gritou que ele era o culpado pela morte da tia. Foram todos retirados do quarto. O silêncio voltara. O inferno que não acabava. A fraqueza era tanta mas abria os olhos. Parecia que sua provação era observar o teto, um mundo branco que acendia-se e apagava-se na lâmpada do quarto.
Um dia, uma visita. Um homem. Louro, alto. As enfermeiras acharam-no delicado e elegante.Tinha uma aliança na mão esquerda .Nunca aparecera antes. Explicara que era um primo distante. Morava em outra cidade. Aproximara-se do doente. Uma tristeza invadiu seu ser. Lágrimas.Tocou-lhe a mão. Estava fria. Fez um carinho. Os olhos quase mortos abriram-se. Um calor reanimou um pouco seu corpo e consegui apertar a mão do desconhecido. Queria falar e não conseguia mais. Lágrimas. Ambos choravam. Uma enfermeira que passava parou e observava a cena. O visitante abaixou e disse algo no moribundo ouvido, quase aos prantos. E saiu de súbito, atropleando a enfermeira que congelara na porta. Alberto entrou em coma depois dessa visita e morreu semanas depois de parada cardio respiratória e desnutrição crônica. No enterro, poucos parentes e alguns colegas que o estimaram em vida e foram avisados no banco. Um médico que simpatizava com ele também acompanhou o cortejo. Ao seu lado, no túmulo, sua mãe. Juntos de novo.

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

ZÉLIA DUNCAN, DORES CIÁTICAS, MORFINA E AMIGOS.

Tem dias que são para a gente não esquecer. Quando vi na televisão a queda de três helicópteros, pensei, de brincadeira, que era um dia para tomar cuidado. Afinal, era véspera de dia de finados. Tudo transcorreu tranquilamente durante a tarde. Fui a oculista e passei horas conversando com ela. Só terminamos o papo porque as funcionárias da clínica estavam loucas para ir feriar. Fui para casa e me deitei, esperando a hora do show da Zélia Duncan. Às 20 horas, me levantei, tomei banho e me perfumei com as melhores intenções. No caminho para o dragão, parei num caixa 24 horas para sacar algum dinheiro. Veio a primeira facada. Nervo ciático dando ar da sua graça. Saquei e pensei que só era uma dorzinha e segui em frente. Quando desci, mais dor. E fui caminhando, me apoiando numa parede. Sentei na entrada da praça verde e vi muito amigos. Daniela de Lavor alegríssima. Muita dor. Não conseguia mais levantar. Roberto chegou com um dorflex. Nada. Mandei todos irem assistir a Zélia. Denise queria ajudar, mas resolvi esperar o fim do show lá fora mesmo. De tempos em tempos, ela ligava para saber como estava. Passou a Juliana. Dei meu ingresso a ela. Por fim, Roberto, muito solidário, saiu do show, chamou o médico da ambulância que estava de plantão e me aplicaram um voltarem injetável básico. Em 40 minutos poderia levantar e em 2 horas, beber. Era a glória. Ouvi o show todo me retorcendo. Cantei algumas músicas. Sentado na porta. Passaram 80 minutos e não consegui me levantar. Roberto pegou meu carro e fomos a Clínica São Carlos. Pela primeira vez, sentei numa cadeira de rodas. Pela primeira vez tomei soro com medicação. Dois soros aliás. E a dor foi passando mas não o problema. Por fim, na hora de ir embora, não conseguia nem voltar à cadeira de rodas. O médico propôs morfina. Eu recusei. Ainda não. Teria que ser homem e agüentar a dor e respirei fundo e me levantei, quase me jogando na cadeira de rodas. Fingi que não estava doendo muito, usei da minha força e entrei no carro. A fome competia com a dor. Mas resolvi não comer. Chegamos em casa. Para sair do carro, dor, dor e dor. Cai de quatro e fui engatinhando até a entrada do apartamento. Nessa posição, consegui me locomover. Enfim, Roberto me levantou e cheguei na cama, onde joguei-me. Dormi bem mas não muito. Mas levantei melhor, e tomei banho. As dores continuavam, mas estar de pé e equilibrado era a glória. Deixei Bob em casa e fui a farmácia. Tomei todos os remédios e mais uma injeção. Na minha família, dia de finados é sempre um dia para ficar em casa até as 18 horas. Por precaução. Hoje foi mais um dia e eu sobrevivi. Graças a deus tenho amigos. Foram muito solidários. Obrigado Roberto por ter cuidado de mim. Amanhã é outro dia. Amém.