quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

A NOIVA VOADORA

Quando Alice decidiu saltar, estava certa que aquele seria seu último vôo. Vestira-se com seu vestido de noiva e pulara do décimo andar daquele edifício de garagens da Avenida Beiramar. Durante a viagem até se esbagaçar-se no solo, Alice, a Alicinha como sua mãe chamava, pensou somente no Carlos, seu grande amor, seu eterno amor. Nada mais importava naquele momento, se não seu amor por Carlos. Pensou como seu amor iria sentir sua falta e a amaria para sempre. Seria sua eterna noiva. Lágrimas e o vento, que bateu violentamente no seu rosto durante a queda, manchara-lhe a maquiagem. No chão, o sangue cobria o rosto por completo mas conservara-se sem fraturas múltiplas, ao contrário do seu corpinho, que muito fora castigado pela queda. Caiu no meio da calçada, fazendo uma grande poça de sangue. Os paramédicos foram logo chamados mas nada puderam fazer. Cobriram o jovem corpo mas tiveram o cuidado de limpar o lindo rosto de Alice, que conservara uma expressão de paz. Havia um sorriso ainda em sua boca. O vestido, antes branco, tornara-se todo vermelho, representando quem sabe todo o amor de Alice por Carlos. Ninguém soubera a identidade da noiva voadora, como foi denominada Alice e seu corpo foi conduzido ao Instituto Médico Legal, onde foi identificado no dia seguinte por seus pais aflitos com seu desaparecimento. A filha sumira e procuraram em todos os hospitais, e por fim, no último lugar onde não queriam estar, acharam a filha. Sabiam porque a filha tinha feito aquilo. O noivo havia terminado o compromisso selado um ano antes. Carlos, muito educado, pediu para conversar com o pai de Alice, e contara-lhe seus motivos. Apaixonara-se por uma colega de trabalho e ela engravidara. Iria casar em poucos dias e não poderia mais esconder esse fato. Devolveu a aliança e deixou uma carta para a ex-noiva. Não tinha coragem de falar-lhe cara a cara. Pedia-lhe perdão e que compreendesse. O amor acabara há algum tempo. Tentara contar. Queria desmanchar o casamento com Alice que se realizaria em poucos dias. Não iria mais casar com ela e sim com outra.
Alice recebera a carta e nada dissera. Trancara-se em seu quarto por alguns dias. No primeiro dia, chorou muito. Mas não tinha raiva do noivo, ou melhor, ex-noivo. Ela não importava-se da outra estar grávida. Ela casaria com ele assim mesmo. Carlos não atendera seus telefonemas. Vestida com o vestido do casamento, pegou um táxi e foi ate a praia. Ninguém notou que saíra de casa. Ficou andando horas e horas, até que decidiu voar. As pessoas estranhavam a jovem vestida para casar andando pelas ruas mas ninguém impediu-a de subir ate o décimo andar, de onde pulou.
Carlos casara naquele mesmo dia, pela manhã.

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