Mário nunca mais voltou para casa. Desapareceu para sempre. Os parentes procuraram dias, meses. Foram até ver o corpo de um rapaz que jogara-se na linha férrea mas não reconheceram-no. Mário jamais praticaria o suicídio. Tinha defeitos mas era evangélico, e freqüentava a igreja todos os domingos. A mãe adoecera. Mário entrou para mais uma lista de desaparecidos. Seu retrato ocupava agora um lugar de destaque em sua casa. Sua mãe chorava todos os dias sua ausência.
Contos e crônicas da vida...a vida não como ela é, mas como a vida quer.
quinta-feira, 13 de dezembro de 2007
Mário
Mário nunca mais voltou para casa. Desapareceu para sempre. Os parentes procuraram dias, meses. Foram até ver o corpo de um rapaz que jogara-se na linha férrea mas não reconheceram-no. Mário jamais praticaria o suicídio. Tinha defeitos mas era evangélico, e freqüentava a igreja todos os domingos. A mãe adoecera. Mário entrou para mais uma lista de desaparecidos. Seu retrato ocupava agora um lugar de destaque em sua casa. Sua mãe chorava todos os dias sua ausência.
Suicídios
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quarta-feira, 12 de dezembro de 2007
LISA
Acordara naqueles dias com dores quase sem controle mas levantou-se e acordou o filho. Teriam um dia bonito. Preparou o café do filhote e ajudou-o a vestir-se. O menino não queria usar o agasalho mas insistira pois estava esfriando naquela época do ano. A criança ficara muito feliz quando soubera para onde iriam. Brincaram durante horas nos brinquedos e depois foram a um shopping center. Compraram muitos presentes para o natal que aproximava-se. Lancharam. Já estava anoitecendo quando pegaram um táxi e foram para casa. Estava tarde e logo que chegaram, Lisa mandou seu filho preparar-se para dormir. O menino obedeceu. A dor estava tomando Lisa por completo e ela começou a preparar um coquetel para Antônio dormir. Misturou vários de seus remédios com morfina. Antônio bebeu tudo sem reclamar. Achou o gosto ruim e fez algumas caretas. A mãe ainda contou uma história antes que a criança adormecesse.
Lisa escreveu algumas cartas e uma especial para seu ex-marido. Deixou-as sobre o piano e foi para casa materna. Sabia que a mãe chegaria tarde e que era dia de bingo com as amigas. Tinha a chave e entrou. Percorreu vários cômodos onde crescera e foi despedindo-se de cada um. Pegou alguns álbuns e folheou. Algums lembranças e lágrimas surgiram. Observou que mãe ainda conservava um porta-retratos do dia de seu casamento. Deixou uma carta ali. E foi para o banheiro.
Passavam das 23 horas quando Dona Clóris chegou em casa. A noite esfriara e estava morta de cansada. Não fora uma noite de sorte no bingo. Encontrou as luzes acesas e viu os sapatos de Lisa na entrada e chamou pela filha. Nenhuma resposta. Saiu procurando Lisa e viu que havia alguém no banheiro pois estava com a luz acesa e a porta fechada. Chamou mais uma vez pela filha. Nada. Bateu mais forte na porta. Silêncio. Tentou forçar a porta mas sua bursite não permitiu. Saiu apressada e pediu ajuda ao um vizinho. Enquanto o vizinho tentava arrombar a porta, reparou em um envelope branco junto ao retrato do casamento da filha. Pegou-o e um estranho pressentimento tomou-a. Nesse momento a porta do banheiro foi arrombada e o vizinho deu um grito. Dona Clóris parou, congelada na porta. A filha jazia, caída no solo do banheiro. Cortara os pulsos e o sangue já não jorrava mais nos pulsos. Desmaiou.
O pequeno Antônio dormiu para sempre. O pai chorou longamente sobre o corpo do filho e não quisera ler a carta que Lisa deixara. Não a perdoava. Fora um bom marido e sofrera muito com a separação, que ela pedira. E agora aquele ato. Aquela violência. Precisaram medicá-lo para que o enterro do menino fosse feito. Os presentes de natal ficariam esperando na árvore.
Lisa fora velada pela mãe e alguns parentes. Não fora enterrada junto ao filho como era seu último desejo. Mas estaria para sempre com ele. O que foi em vida, seria em morte.
A NOIVA VOADORA
Alice recebera a carta e nada dissera. Trancara-se em seu quarto por alguns dias. No primeiro dia, chorou muito. Mas não tinha raiva do noivo, ou melhor, ex-noivo. Ela não importava-se da outra estar grávida. Ela casaria com ele assim mesmo. Carlos não atendera seus telefonemas. Vestida com o vestido do casamento, pegou um táxi e foi ate a praia. Ninguém notou que saíra de casa. Ficou andando horas e horas, até que decidiu voar. As pessoas estranhavam a jovem vestida para casar andando pelas ruas mas ninguém impediu-a de subir ate o décimo andar, de onde pulou.
Carlos casara naquele mesmo dia, pela manhã.
domingo, 2 de dezembro de 2007
Saudades de SP
terça-feira, 27 de novembro de 2007
Saga Paulistana
segunda-feira, 26 de novembro de 2007
Viver e morrer em SP.
sexta-feira, 16 de novembro de 2007
Fantasmas
Ontem acordei cedo para pegar um ônibus para Bodocó. Rodoviária do Crato vazia. Três horas de espera e veio a Viação Pernambucana. Mais duas horas de viagem e eu ligo avisando minha prima que ia chegar atrasado para o almoço. A vegetação mexe muito comigo e fui interagindo com a paisagem e meus pensamentos foram longe. Fazia uma década que não percorria esse caminho. Alguma coisa nos últimos dias me deixou depressivo. Algumas lembranças do passado andaram me assombrando também. Quantos fantasmas nos assombram. Ando assombrado.
quarta-feira, 14 de novembro de 2007
SECAS

Domingo estava vindo para o Cariri e algumas dores me incomodavam, mas nada que tirasse meu humor. Fiquei ouvindo música, acompanhando a seca paisagem. Pior que a seca vegetal, era a secura dos homens. Fui acompanhando o sol sumir num espetáculo indescritível e a noite vindo, anoitecendo e eu rezando com as estrelas por todos aqueles que me são caros e que a saudade bate nessas horas. E como a saudade fica enorme. Já era noite e meu papo com o céu continuou por muito tempo. Depois de anos, voltei ao Crato. Um calor sem precedentes. Muitos espetáculos acontecendo. Fui assistir uma peça que falava sobre a morte, diversas mortes. Quase duas horas. Quase morro. Comecei a sentir dor, mas resisti. No fim, lingüiça fria. E fui ao Crato Tênis Club ver os amigos. Não agüentei muito tempo. Sono. Mas os dias tem sido tranqüilos na oficina. Conhecer pessoas e realidades diferentes. Quantas secas conhecemos mais ainda. Hoje, vendo a dança dos índios tentava apagar uma tristeza dentro do meu coração. E foi bom ver aquela dança cheia de significados e mistérios. Aliviou meu coração. Aliviou a secura daquele momento. Amanhã, Bodocó.
Sem resposta

Um dia, uma visita. Um homem. Louro, alto. As enfermeiras acharam-no delicado e elegante.Tinha uma aliança na mão esquerda .Nunca aparecera antes. Explicara que era um primo distante. Morava em outra cidade. Aproximara-se do doente. Uma tristeza invadiu seu ser. Lágrimas.Tocou-lhe a mão. Estava fria. Fez um carinho. Os olhos quase mortos abriram-se. Um calor reanimou um pouco seu corpo e consegui apertar a mão do desconhecido. Queria falar e não conseguia mais. Lágrimas. Ambos choravam. Uma enfermeira que passava parou e observava a cena. O visitante abaixou e disse algo no moribundo ouvido, quase aos prantos. E saiu de súbito, atropleando a enfermeira que congelara na porta. Alberto entrou em coma depois dessa visita e morreu semanas depois de parada cardio respiratória e desnutrição crônica. No enterro, poucos parentes e alguns colegas que o estimaram em vida e foram avisados no banco. Um médico que simpatizava com ele também acompanhou o cortejo. Ao seu lado, no túmulo, sua mãe. Juntos de novo.
sexta-feira, 2 de novembro de 2007
ZÉLIA DUNCAN, DORES CIÁTICAS, MORFINA E AMIGOS.
quarta-feira, 31 de outubro de 2007
A CASA EN PASSANT
quarta-feira, 24 de outubro de 2007
Blackout
terça-feira, 16 de outubro de 2007
Dores das dores
A casa, ou melhor, os restos dela, não era aberta há anos. Um cheiro de morfo dominava todo o ambiente. Cheiro do passado. Maria das Dores empurrou a porta e quase sufoca-se com o ar morto há anos. Puxou um lenço da bolsa e protegeu o nariz. Foi aos poucos percorrendo os cômodos e a memória. Abriu as janelas. O sol foi dissipando as trevas. Em cada ambiente viu um fantasma. Havia um banco velho. Sentou-se. Era o banco de sua avó. Avó que fora massacrada pelo seu avô, assim como todas as mulheres de sua família foram massacradas por seus maridos e homens, donos absolutos de seus corpos e mentes. Ela fora massacrada por vários homens.O corredor dava na cozinha. Dorinha menina, se viu brincando naquele espaço, ouvindo os ruídos do pai montado em sua mãe, que chorava sempre naqueles momentos. Ela não entendia, naquele tempo, que o pai maltratava a mãe no sexo quando fechavam-se no quarto. A mãe sempre dizia que não era nada às crianças. As marcas sempre denunciavam o contrário e Dorinha só começou a entender melhor quando o pai começou a tocar em suas formas e a mãe apareceu cheia de marcas roxas. Lágrimas rolaram e misturaram-se à poeira que trouxera da estrada no caminho. Os gritos das irmãs sendo abusadas na noite e o choro da mãe a angustiaram mais. Suas irmãs eram mais velhas. Fugiram de casa numa noite. Levavam somente a roupa do corpo e a coragem. O paradeiro ninguém sabe, ninguém viu. Talvez tenham ido para a estrada e pegaram carona no destino, como ela mesma fizera anos depois. Passado chegando. Levantou-se e foi até a sala. Debrussou-se na janela da sala, onde ficava espiando o pai bêbado voltar, para esconder-se com as irmãs no quintal. Ouviu os gritos, seus gritos de socorro, sendo arrastada para a cama da mãe, que a encontrou ainda ensangüentada, em estado de choque aos 11 anos. Não era nem moça e a menstruação nem chegou a vir. Só meses depois da barriga E a barriga cresceu. A vergonha calada no signo do medo. Os meses sem sair de casa, longe dos olhares estranhos e curiosos. A dor. Dorinha gritando, sendo partida ao meio e a criança que nasceu morta. Morta de dores. Um lindo bebê que não sobrevivera a sua origem. O filho que das Dores perseguiu a vida inteira, nas mãos dos muitos homens que teve, primeiro nas estradas, depois nas casas. Nada foi previsto quando a mãe mandou-lhe embora. Não queria ir, apesar de tudo. A mãe fez-lhe uma trouxa e mandou seguir o caminho das irmãs. Que procurasse por elas e mandasse notícias. Busca inútil. Dona Maria das Chagas nunca reviu. Nos anos em que Dorinha virou Dora, escreveu , mandou endereço e nem mesmo quando o pai morreu bêbado e afogado, a mãe quis ainda continuar naquela casa perdida no sertão e não foi morar com a filha. Passaram 20 anos. Os parentes mantiveram a casa. A saudade da mãe e das irmãs eram terríveis. Não tinha mais ninguém no mundo. Todos morreram. Talvez suas irmãs estejam mortas também. Estava vendo-as também. Via todo mundo na sala como antes quando a mãe fazia renda de bilro. Um dia estaria morta e também ali, naquela sala. Apenas um fantasma do passado. De volta pra casa.
terça-feira, 9 de outubro de 2007
Medos
segunda-feira, 8 de outubro de 2007
ÁGUA
sábado, 29 de setembro de 2007
A BEAUTIFUL DAY
segunda-feira, 24 de setembro de 2007
Daqui há 3 anos...

terça-feira, 18 de setembro de 2007
segunda-feira, 17 de setembro de 2007

terça-feira, 11 de setembro de 2007
DO QUE SOMOS FEITOS...
domingo, 9 de setembro de 2007
PENEDO

segunda-feira, 3 de setembro de 2007
O CAFOFO
domingo, 26 de agosto de 2007
CHEGADAS E PARTIDAS

Hoje encontrei uma foto, das muitas que tenho com a Cíntia Pescke, e que me fizeram sorrir e chorar. Há dois anos ela partiu. Todas as festas que íamos, tirávamos uma foto afim de fazer ciúme ao marido dela. Era sempre muito divertido. Ela só me chamava de “Rica”. Um dia, um caroço na garganta, uma biópsia, o diagnóstico fatal. Mas o último natal dela passamos juntos e rimos. Foi inesquecível pelo que aprontei na hora de cantarem “Noite Feliz”. Eu não agüentei ouvir a Dona Maria desafinar e cai na gargalhada. Imagina, ela uns 80 anos, querendo me matar. Meses depois, tudo acabou. Ou começou. Para muitos a morte é o fim, para mim, o recomeço. E nessa discussão ficamos eu e meu irmão, que morre de medo de morrer. Medo de que? A vida é tão sábia. Nada acontece sem a vontade do divino. Nós é que não sabemos viver. Ontem, no caminho para Sobral fui olhando o céu. Estava lindo. Ai pus o óculo escuro e notei que a nuance de cores mudava e eu via um certo arco íris que a visão normal não captava. Assim é a vida. A gente capta tão pouco dela. Uma vida de chegadas e partidas.
segunda-feira, 20 de agosto de 2007
POEIRA DO TEMPO

Arrumando minha casa, revirei umas caixas que guardo com cartas de muito tempo e outras coisas mais como fotos e convites. Achei o convite do Pedro, um dos mais brilhantes e cdf estudantes de medicina que conheci. Não fui a formatura dele. De repente, seguindo um impulso, encontrei-o. Muito elegante nas suas fotos mundo afora. O tempo passa. Ontem tomando café com a Denise, aliás, saimos para tomar café e tomamos sorvete, e nem podia tomar nada gelado. Mas a teimosia é braba. Encontrei alguns amigos. Ficamos traçando planos. Sempre planos e lutas para vencê-los. Viver está cada dia mais difícil mas vendo os jogos parapan, constato que não sou nada e que aqueles atletas são super heróis. Resmungamos tanto de pequenas coisas e quando vemos alguem sem braços, nadando, é um tapa em nossas caras. E por fim, vendo o terremoto no Peru, penso nos tempos apocalípticos. Pessoas passsando fome, frio e sede. E o Brasil mandando toneladas de alimentos. Nada mais justo pois é ajuda humanitária. Mas nada mais injusto se pensarmos no montante de famintos que nosso berço esplêndido tem.
sexta-feira, 10 de agosto de 2007
quarta-feira, 8 de agosto de 2007
AMIGOS, ZUZU E UM BATIZADO
terça-feira, 7 de agosto de 2007
Pro dia ser mais feliz!
terça-feira, 19 de junho de 2007
PARENTE É SERPENTE
O GUARDA-CHUVA LARANJA E ELSA
AS PRISIONEIRAS DE SI MESMO
É russo ser brasileiro
Entre amores e desamores, o amor nos tempos de cólera.
Sono
Lembrança passageira de uma noite inteira
desejos de sono infinito
nao quero acordar do vazio do óbvio
a certeza de nao ter ninguem
a incerteza de querer o nao querer
olhar o céu e nao querer
querer o sol e ele nao querer
querer o sonho eterno e a vida não querer
querendo tudo
tudo nao tive
tive o mundo
o mundo girou escorregou.
Ricardo André Bessa