sexta-feira, 10 de julho de 2009

Mãe Coragem

Hoje encontrei Mãe Coragem na rua. Não estava no meio de uma guerra, pelo menos eu não, ela sim, talvez, a guerra de se viver num país que não protege seus velhos. Talvez, envelhecida pelo tempo, aparentava mais de 70 anos. Acompanhando-a, um garoto. Gorducha, lenço na cabeça, saia até os pés e uma blusa laranja, ela puxava seu carro, tipo geladeira com rodas, por uma rua, onde eu cruzei, vindo da academia. De cara, me veio o pensamento: Mãe Coragem. Continuei caminhando e virei para trás para observar melhor. Nesse momento ela virou-se também. No nosso rápido cruzamento, olhei para seu carro e vi sacolas e garrafas de plástico. Meu coração apertou ao ver a realidade daquela senhora, e pensar na minha. Pensei na minha mãe coragem, na minha avó coragem, tias coragem, amigas coragem. Houve tanta coragem na minha vida. Da minha avó, saída de um seringal junto com minha mãe, às minhas tias e seus homens fracos, e há muitas que conheci pelas andanças. Tem a Lúcia do Coco, mulher coragem. Criou a filha vendendo coco na praia. Ainda cria. Tem ainda Tia Zuleide, cunhada da minha avó. Apanhava do marido bêbado e não soltava o terço, rezando. Virou benzedeira. Agüentou o marido até ele morrer. Vai virar santa. Agora prestes a chover. Onde andará Mãe Coragem?

Um comentário:

Anônimo disse...

Gostei demais desse texto. Consegui visualizar tudo que você falou.

Parabéns !!

Jefferson