quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Um copo de miséria


Esses dias fui à Fortaleza correndo. Mal vi poucos amigos e tive que voltar. Acordar e olhar o mar, poder respirar um ar não tão saturado, tomar sol as cinco e meia da manhã, foi tudo muito revigorante. Voltar a São Paulo, respirar o oxigênio poluído, quando não respiro o ar infecto do rio Pinheiros. Mas os poucos dias na capital alencarina valeram por muitos. A cidade continua suja e tende a piorar com a aproximação da eleição. Detesto política mas pude ver que será uma campanha de baixo nível, com todos atirando em todas as direções. É o desejo do poder. O diabo deve está muito feliz, enfim, foram muitos homens que penhoraram suas almas. Marcou-me a cena de uma Pietá, uma mãe que segurava seu filho no colo, encostada num poste, em frente da entrada onde dei meu curso. Todos os dias ela estava lá. A situação daquela pobre criatura não mudará tão cedo. É difícil mudar a cabeça de certos filhos de deus, que vendem seu voto por um saco de feijão. Seria melhor passar fome? É cruel. Mas há tantas fomes nesse mundo. No caminho para minhas aulas, vim lendo no trem um artigo de C. Wright Mills. Falava sobre a imaginação sociológica falsa que temos das posições sociais. Fiquei pensando nas relações entre nossa sociedade. Lembrei-me da amiga de minha mãe, que vendo sua empregada abrir a geladeira e pegar água gelada, repreendeu a empregada pois ela não podia beber água mineral, ainda mais gelada, já que na casa dela não havia geladeira nem agua mineral. Miséria humana . Cada dia eu acredito mais em reencarnação pois não é justo acreditar que vive-se somente uma vez em meio a tantas desigualdades. O pensamento humano tem que mudar. O homem tem que mudar. Temos que mudar. Um copo d'água pode valer nossa entrada no céu. Enquanto não desvendamos o paraíso, vamos vivendo.

3 comentários:

Jussier disse...

Ótimo texto Richard, curioso é que estou pensando, no momento, justamente sobre isso, e como é difícil pra nós pobres mortais, superar nossos orgulhos e pensar de forma coletiva. Um exercício contínuo diria. Mas às vezes me pego tendo atitudes também repugnáveis, ORAI E VIGÍLIA. Abraço

Fernando Fontes disse...

A nossa riqueza é medida pelo que podemos oferecer ao semelhante e não por aquilo que possuímos.
Dói no coração ver tantas injustiças, principalmente em um país que poderia oferecer muito mais que a corrupção...

Cleyton Cabral disse...

Adoro ler seus escritos. =D
Saudades. Apareça por cá!