sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Por um pouco de felicidade no meio do nada


Há muitos anos não ía em Jericoacoara. Muitas mudanças na cidade e em mim. De adolescente para homem. A estrada agora era sinalizada e fiz o caminho entre as dunas à luz do dia e não com a lua me acompanhando, como das outras vezes. A pousada não era lá essas coisas e o café da manhã idem. Mas no primeiro dia, ou melhor, na primeira tarde, já que chegara depois das 14 horas, fomos até a pedra furada. O tempo ameaçava fechar, mas o lugar era lindo. O guia começou dizendo que ficava 1km distante, depois dois, e no fim eram mais de três. Mas criamos coragem e fomos. Um lugar muito lindo e era como se fosse a primeira vez. Chegamos na pedra furada. Todos correram para tirar fotos. Dei um tempo e contemplei o lugar. Depois fotos. Da última vez, podia subir na pedra. Agora, não mais. A volta, uma chuva torrencial ameaçava-nos. Fui caminhando junto ao mar, observando o entardecer. Momentos de muita paz. A chuva nos pegou e fiquei ensopado. Teria suas conseqüências. A noite, filé de peixe com limão. O restaurante quase me estressa. No dia seguinte, passeio à lagoa azul. Minha máquina cai na areia e deixa de funcionar. Um pouco de stress. Comprei uma descartável e conheci a pequena Needa, uma lituana sorridente de poucos meses. A tarde, passeio a Tatajuba. E chuva, chuva. Frio. Na volta, minha garganta anunciava que teria uma noite doente. Choveu a noite toda e nada de por-do-sol na duna. Pela manhã, subi a duna e contemplei o paraíso. Quando for um escritor famoso, abandonarei tudo e ficarei três meses por ano escondido em Jeri. Lá em cima, vi que podemos ser felizes com um pouco de felicidade. Relembrei o garoto no meio da chuva dando tchau, rindo, no meio do nada. Lembrei de bicicletas sobre as dunas. Lembrei do pescador tirando água da jangada para navegar. A felicidade era aquilo. Está com quem gostamos e vendo que Deus existe. No meio do nada.

domingo, 4 de janeiro de 2009

O vestido ou menos é mais


Não sou de reparar no que as pessoas vestem. Juro. Há controvérsias. Por força da profissão de designer de moda, até que dou minhas olhadas. Acredito que cada um deva se vestir como goste ou queira. Enfim, acho necessário existirem os “bregas” para que sejamos mais felizes. Em todas as partes, há pessoas que vestem-se mal. Porque é francês não significa que seja a coisa mais elegante do mundo. Mas a França nos deu Mamãe Chanel e suas lições. Vivemos num país tropical, cheio de contradições no vestir. No verão vemos muitas aberrações e surpresas. Nos últimos dias, houve um vestido vermelho que deu o que falar aqui em Fortaleza. Era uma posse política. E meu Deus, político veste-se mal, muito mal, e às nossas custas. Talvez a dona do vestido desejasse “abalar Bangu”. Um vestido decotado e uma gola de branca de neve flocada a sustentar o vestido. Cetin ou tafetá talvez. Havia brilhos. Alguém me disse que ela costuma criar seus modelitos. Péssima estilista. Será péssima administradora também? Uma roupa pode dizer muito. E nem vou falar do cabelo que não é minha área. Nessas horas, aconselho as “fashion victim” governantes a gastar uma ínfima quantia da verba do paletó e contratar um “personal stylist”. Se conselho fosse bom, não se dava, se vendia. Mas para a jovem senhora do vestido vermelho eu dou de graça. Um dia já tivemos um relacionamento de aluno x professora. Eu aprendi muitas coisas. Agora acho que posso ensinar a ex-mestre um pouco. E faço no anonimato. Não preciso aparecer por isso. E a vida segue entre vestidos vermelhos e vidrilhos. Menos é mais.