quarta-feira, 30 de julho de 2008

Anjos e ventos


O pensamento que traz o vento. O vento que mostra o tempo. O tempo que pode ser tormento. O mar que nos faz pensar. Pensar que nos faz amar. Amar, pensar. Saudade do tempo em que éramos meninos. Pensávamos que seríamos seres guerreiros mar adentro. Somos guerreiros sem paradeiros, perdidos no mar sem tempo, num vento que açoita nossa cara e desmascara nossa máscara. Não somos mais meninos. Continuamos traquinos. Ainda somos meninos. Apenas crecemos. Do outro lado, anjo alado. Asas guardadas. Anjo, voa, assopra o vento. Enquanto é tempo. Voa.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Imortais.


Sábado fui ver "A Megera Domada " com o grupo de Cacá Rosset. Uma montagem grandiosa, seguindo os preceitos shakespirianos, humor fino, cenários comuns mas funcionais e figurinos lindos. Música ao vivo. Bons atores. Boas gargalhadas. Shakespeare imortal. No fim, Cacá dedica aquela apresentação a Dercy Gonçalves, outra imortal, que morreu no sábado. A história de Dercy é a história de muitos artistas: fome, luta e superação. Venceu todos os obstáculos num tempo em que atriz e prostituta eram a mesma coisa para a polícia. Vamos sentir saudades dos seus palavrões. Porra, puta que pariu! E ela só queria trabalhar. Lembro-me de ter cruzado com ela uma vez, numa desta em Blumenau. Foi muito simpática. E foi-se. Domingo, dia de sol, fui para o Guarujá. Dia lindo, céu de brigadeiro. Na praia, tomei raspadinha de uva com leite condensado e quase fico diabético. Depois comi milho no pratinho com garfinho. Sem graça. Bom mesmo é chupar a espiga. Ainda teve a inacreditável tapioca de pizza e um cheeseburguer. Só faltou um acarajé pois vi um carrinho que vendia na areia. Ainda encontrei o Mickey Mouse na praia. Imortal. O vento frio me arrepiava e não tive coragem de entrar no mar. Um picolé. No fim, algumas mensagens do dia da amizade. Já não tinha créditos para responder. Amo meus amigos. E dia da amizade é todo dia. E meus grandes amigos são imortais para mim.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

República dos bananas


Quando chamam nosso Brasil de república dos bananas, lá fora, são injustos porque esquecem de olhar seus próprios países e verem que fazem mais absurdos que a gente. Por outro lado, vivemos numa república de bananas sim. A nossa administração cada dia mais enfatiza esse termo. Pobre fica preso anos porque roubou uma lata de leite para alimentar um filho faminto. Banqueiro milionário fica preso algumas horas por roubar milhões. Na maioria dos casos, os políticos tem o rabo preso. Uma hora aparecem como cordeiros, mas depois mostram sua cara e são na verdade lobos devoradores do patrimônio público. Nunca podemos dizer nunca, mas espero nunca vender minha alma ao diabo me candidatando a alguma eleição. O diabo adora cobrar a alma como dívida de campanha. Eu tenho que acreditar que teremos um futuro melhor. Mas quando? Bem, se vivêssemos numa democracia, não seríamos obrigado a votar. Democracia plena é termos o direito de não votar. Mas somos obrigados. País de bananas. E hoje lendo uma crônica de Carlos Heitor Cony refleti um pouco. Ele nos conta que Garrincha, ao ser indagado sobre o que lembraria sempre de Roma, respondeu: foi em Roma que roubaram as chuteiras do treinador da seleção brasileira. Todos os caminhos um dia levaram a Roma. Caminhos falhos. Roma ruíu com as ivasões bárbaras. Será que um dia nossa política bárbara ruirar? Talvez, acendendo uma vela, mas não de sete dias, tenhamos fé. Uma vela de setenta e sete anos? Mais? Vamos esperar. Cada dia mais o canto de Cazuza ressoa na minha mente: Brasil, mostra tua cara!

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Páginas cotidianas-a dama da lotação


Dias desses, pegando o metrô até a São Bento, um garoto cego me chamou atenção. Seu olhar era mágico, pois mantinha os olhos bem arregalados e segurava a mão de seu amigo ou pai. Lembrei-me que tenho três primas cegas, irmãs. Enxergam com os ouvidos melhor que eu. E como somos cegos nessa vida. As vezes não enxergamos o que está embaixo do nosso nariz. O metrô aliás é uma página cotidiana de fatos para vermos as coisas. Outro dia, o carro lotado, uma loura, meio vulgar, roupas vulgares, e um homem de terno e gravata, um tipo italiano, protagonizaram uma cena, em que assisti de camarote, bem na minha frente. Não sei que momento olhei para ambos pois conversava com um amigo, mas quando reparei, o homem encostava de leve no "derriére" da moça. Com o movimento, o balançar tornou-se constante, e a moça deliciava-se com a situação. A dama da lotação. Fiquei observando e meu amigo ao lado também notou o flerte do casal. Beirava quase a imoralidade, como diria uma tia carola de igreja, mas eles, parada após parada, continuaram em sua paquera. Eu e meu amigo começamos a conversar em inglês sobre o fato e demos boas gargalhadas, o que chamou a atenção do casal. O homem afastou-se mas notamos o grau de excitação dele e o desânimo dela. Separaram-se. Notei uma aliança na mão esquerda dele. Ela parecia solteira, sem alianças. Logo ele desceu e nós tambem. A moça continuou. Talvez em busca de um parceiro. Foi a única vez que vi um "quase" ato sexual no metrô. Ou melhor, foi um ato sexual, apenas não tiraram a roupa e transaram ali na nossa frente. Nossa mente já tinha despido-os e tornado-os dois despudorados e tarados. Como nossa mente é fértil.