terça-feira, 19 de junho de 2007

PARENTE É SERPENTE

Para os antigos, um eclipse lunar ou solar, tinha uma significação especial. Poderia ser sinal de sorte ou azar. Tenho uma tia que nasceu com uns sinais vermelhos no pescoço. Minha avó dizia que tinha visto um eclipse solar na gravidez e os sinais na minha tia estavam explicados. Cada um tem a família que merece. Certa vez, minha avó reclamou que não era amada e outra tia retrucou que ela estava cobrando carinho mas nunca tinha manifestado o mesmo entre seus 10 filhos. E garanto, apesar de tudo, todos tratam carinhosamente ela. Parente é serpente. Ás vezes, famílias matam-se entre si, disputando uma herança qualquer. Do mundo nada se leva. O homem perde-se em si mesmo, acumulando bens e morrendo por eles. E não levarão nada. Só o conhecimento que adquirirmos levaremos. Fico espantado quando vejo um caso de suicídio. Esse ato de revolta contra si mesmo deixa muitas marcas nos que ficam. Dói demais. O suicida é alguém extremamente egoísta. Pensam que acabam com tudo mas o espírito é imortal. O tribunal da consciência que julgue cada um de nós. E ainda ouvimos: tinha tudo e se matou. E eu retruco: morreu de felicidade e egoísmo. Morreu por excesso de dinheiro. A maioria de nós sobrevive. Uns com mais, outros com menos dívidas. E nem por isso andamos nos matando. Incoerências. Estamos cheios delas. Do mundo nada levarei. Acordei pensando nisso. Morrerei pensando nisso. Ontem tomei um lexotan para dormir. Não sou viciado. Tinha essa caixa há 2 anos. Queria dormir muito. Esquecer certos parentes-serpentes que me pertubaram o domingo. Dormi muito. Mas os problemas persistem. E vamos lá. O leão do imposto de renda me espera. Estou armado contra ele. Estou armado contra todos. Minha arma é a parcimônia. Quero ir para o céu. O inferno vai está cheio. Quero ir para o céu. Quero ir para Parságada. Na vida, alguns amigos são mais irmãos que nossos próprios irmãos. E Deus na sua infinita sabedoria ajuda aqueles que precisam. Vivendo uma angústia que parecia sem fim, o telefone tocou. Era uma das melhores amigas. Veio me trazer o sorriso. E temos que sorrir mais. Paz para todos. (RICARDO ANDRÉ BESSA)

O GUARDA-CHUVA LARANJA E ELSA

Essa semana perdi meu guarda-chuva laranja e ele serve de metáfora para outras perdas. Há duas semanas uma amiga perdeu sua avó que me era tão querida também.Não que o guarda-chuva fosse a coisa mais importante da minha vida mas era o único que tinha no momento. Talvez Dona Elsa fosse uma das coisas mais importantes para minha amiga e sua família. Eu tinha tido muitos guarda-chuvas pois gostava de colecioná-los. Dona Elsa tinha muitos filhos e muitos netos, bisnetos. Meu guarda chuva era laranja. Dona Elsa era uma ser maternal, uma figura adorável. De tantos guarda-chuvas que tivera, só restara aquele. O legado de Elsa vai estar sempre presente junto com a lembrança de Seu Zequinha. Perdi muitos guarda-chuvas, de várias partes do mundo. Não gosto de velórios e enterros, mas fui em consideração a uma família que adorava muito e para orar pelo espírito que partiu. Meu guarda-chuva vai ser substituído. Dona Elsa nunca será substituída. Talvez não tenha perdido meu guarda-chuva e sim alguém tenha gostado dele muito e não quis me devolver. Ninguém perde ninguém quando se ama. O amor transpõe as barreiras da vida e da morte. Esqueci meu guarda-chuva no teatro mas não encontrei-o no lugar onde havia deixado. Eu sustento a teoria que no dia que perdemos alguém é um dia diferente. Na terça, era um dia feliz para muitos meus amigos. Naquela quinta em que Dona Elsa partiu, eu tinha achado uma foto que ganhara de sua neta. Eu havia pedido aquela foto pois ela estava sorrindo e não tinha nenhuma foto dela. Coincidência? Eu não queria levar meu guarda-chuva ao teatro mas serenou um pouco naquela noite. A foto ficará guardada como uma lembrança de alguém que sempre me tratou muito bem e foi tão carinhosa. O guarda-chuva vai ficar na memória. Como Elsa, Zequinha e tantos outros. Me disseram que perder um guarda-chuva é bom pois seria algo ruim que aconteceria. Dona Elsa não foi uma perda boa mas foi o que a vida quis. Era a hora. E foram 88 anos lúcidos até o fim. Lembranças boas que não se apagam.

AS PRISIONEIRAS DE SI MESMO

Hoje de manhã, aproximadamente cinco da manhã, fui acordado por uma mensagem do celular. Que ódio do meu sono sensível. Não dormi mais. Era uma mensagem da Letícia dizendo que me amava. Eu perdôo. Aí fiquei vendo televisão. Uma matéria sobre as carmelitas enclausuradas me chama atenção. Há muitos anos, era criança ainda, uns 10 anos de idade, fui a um carmelo. Não gostei. Aquelas mulheres prisioneiras de si mesmo angustiaram minha alma. Lembro-me que sai de lá triste. Não era permitido nem um abraço. Falava-se entre grades. E hoje de manhã, vendo as enclausuradas proclamando votos de felicidade, acho uma loucura. Deus criou um mundo maravilhoso e pecado é não poder ir a beira mar, a uma floresta, a tantos lugares. Como as pessoas interpretam mal os ensinamentos religiosos. Perdoem-me os que pensam ao contrário, mas Jesus ou Virgem Maria se decepcionaria ao ver certas interpretações sobre fé e religião. Não é aprisionando-se que ganha-se virtudes. Trabalhando, plantando, colhendo, convivendo com o difícil ser humano é que se cresce. Deus me livre um claustro. E lembro de um trecho de um livro que diz: excesso de fé não esconde certos pecados. O olhar de falsos profetas assim como suas línguas são contrárias a certas fés professadas. E quando acaba a semana santa, uma triste estatística: há mais mortes e acidentes nesse período que no carnaval. O que é um ser santo? O que? É dando que se recebe.

É russo ser brasileiro

Hoje fui receber meu título de eleitor. Foram três dias de maratonas e filas. O primeiro, não levei meu guarda-chuva porque o que tinha, fora roubado, e para minha sorte, choveu naquele dia e voltei pra casa. O segundo, uma fila para pagar a multa de 3 reais por eleições não justificadas. Havia uma turbeculosa na minha frente que não parava de tossir e cuspir. E ainda me chamou de lindinho de lindo e fofinho. Minha dívida : 7 reais e 2 centavos. Duas horas e quatro minutos em pé. E esses hum real e dois centavos? Só deus sabe de que é. No terceiro dia, mais uma fila. Essa foi rápida. Sessenta e sete minutos. No fim, recebo o título e a senhora que me atendeu diz boa sorte. Eu volto e pergunoi porque ela desejara boa sorte. Era porque muitos adoravam votar. Eu disse que não era meu caso. Que, se vivêssemos numa democracia não seríamos obrigados a votar. Ela baixa a cabeça e concorda. Não existem motivos políticos que me façam pensar o contrário. Ser político é a melhor profissão do mundo e o pior pecado. Trabalham três dias por semana, tem verba pra tudo que é lado, passagens aéreas, etc e etc, e corrupção e corrupção. O inferno deve estar cheio deles vendendo esperanças aos demônios. Se duvidarem, já fizeram uma nova constituição para o inferninho. Ontem estava comparando nosso momento político e social aos momentos que antecederam a revolução russa. Uma desordem total, um czar Lula alheio aos verdadeiros valores que sustentam uma nação, um povo esmagado pelo proletariado rico, uma classe intelectual que tem medo de se manifestar. E eu ainda sou obrigado a pagar imposto de renda que vai sustentar a gasolina azul do aerolula. Nunca esquecerei, há muitos anos, na véspera da segunda eleição que elegeria o FHC para um segundo mandato, estava eu na platéia assistindo o Grande Ricardo Guilherme em Bravíssimo. Chorei de emoção pela interpretação incendiada e majestosa de Ricardo sustentado por um texto baseado em Nelsom Rodrigues. E ele falava: “O que tem sido o brasileiro desde Pero Vaz de Caminha? Eu vou confessar

Entre amores e desamores, o amor nos tempos de cólera.

Hoje é o dia dos namorados. Aquela música do Jota Quest diz muito: o amor é o calor que aquece a alma. Amar, verbo intransitivo. Boa parte da vida passamos a pensar sobre o amor, a procurar um amor, a viver um amor, mas nem sempre somos vitoriosos nessa tão delicada questão. Quantas horas perdemos por amores brutos, amores insanos. O homem está tão brutalizado que esquece pequenos gestos. É o homem cavalo, não o homem cavalheiro. Pequenos gestos valem milhões. Um pequeno papel, mesmo amassado, escrito eu te amo, eu gosto de você, você é importante, vale muito mais que presentes caros. São lembranças que carregamos para a eternidade. Lembro de vários amores. Lembro da obra prima sobre o amor de Gabriel Garcia Márquez: “O amor nos tempos de cólera”. Li esse livro há muitos anos emprestado. Um amor que espera dezenas de anos para se concretizar. Tantos amores que os homens não deixaram concretizar como Abelardo e Heloísa. Tantos amores santificados como Clara e Francisco de Assis. O amor não morre. A eternidade taí para eternizá-los. Lamento as horas e lágrimas perdidas por amores que passaram como a poeira do tempo. Poucos amores para a eternidade. Lembro de filmes, muitos, que chorei. Lembro de uma frase de um deles: você pode amar uma pessoa a vida toda mesmo não estando com ela. O grande desafio da vida é aprender viver sozinho. O maior prêmio da vida é viver amando e sendo amado. Quem nunca amou não viveu, perdeu-se em si. Por pior que seja, certas vezes, amar ainda é a melhor coisa da vida. Feliz quem ama, quem é amado. Infeliz quem não amou. Entre amores e desamores vamos vivendo. (Ricardo AndréS Bessa)

Sono

No meio de sonhos acordei
Lembrança passageira de uma noite inteira
desejos de sono infinito
nao quero acordar do vazio do óbvio
a certeza de nao ter ninguem
a incerteza de querer o nao querer
olhar o céu e nao querer
querer o sol e ele nao querer
querer o sonho eterno e a vida não querer
querendo tudo
tudo nao tive
tive o mundo
o mundo girou escorregou.
Ricardo André Bessa